Folha de S. Paulo


Mostra de SP exibe filmes vencedores dos festivais de Cannes e de Toronto

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Cena de 'Três Anúncios para um Crime
Cena de 'Três Anúncios para um Crime'

Sombrio é o mundo que se desenrolará nas telas da Mostra de Cinema de São Paulo. É o que sugerem dois dos maiores destaques do evento, que começa nesta quinta (19).

"The Square", do sueco Ruben Östlund, faz um retrato mordaz da arte contemporânea na era das redes sociais; "Três Anúncios para um Crime", do inglês Martin McDonagh, pode ser visto como um ensaio sobre o ódio nos Estados Unidos de Trump.

A Folha falou com os dois diretores -vencedores dos últimos festivais de Cannes e de Toronto, respectivamente-, representantes de uma onda de filmes desconsoladores.

"É ótimo que as tramas se afastem o máximo possível daquelas de super-herói da Marvel, sem humanidade ou surpresa", diz McDonagh.

Em "Três Anúncios...", ele conta a história de uma interiorana americana (Frances McDormand) em pé de guerra com as instituições -no caso, a polícia local, incapaz de solucionar a morte de sua filha. A mulher se vinga afixando mensagens intimidadoras contra o xerife nos outdoors que dão nome ao filme.

O diretor não crê que se trate de uma alegoria sobre a ira do eleitor de Trump. "Mas seria estúpido tapar os ouvidos diante de quem acha isso. A América está se destroçando."

Ainda que perpasse questões como estupro, racismo e vingança, o inglês McDonagh insere o mesmo humor (cáustico) presente em seus longas anteriores, como "Na Mira do Chefe" (2008) e "Sete Psicopatas e um Shih Tzu" (2012).

"É uma história sombria, mas não podia ser depressiva", diz. "É um pouco sobre achar esperança na tragédia."

'MUNDINHO DAS ARTES'

Vencedor da Palma de Ouro, "The Square" não é muito mais alentador. Mas aponta a lupa para si próprio, ou melhor, para os esforços da arte em se fazer pungente -mesmo que para isso tenha de adotar o choque pelo choque.

Na trama, Christian (Claes Bang) é o curador de um museu que precisa atrair visitantes à sua nova instalação, uma plataforma que incentiva o altruísmo do público. Para promovê-la, Christian aceita veicular um vídeo violento para que viralize na internet.

"É uma ironia que ele tenha de fazer um vídeo cínico para promover um projeto humanista", diz Ruben Östlund.

Em "The Square", o diretor volta a tratar da responsabilidade do homem europeu, como em "Força Maior" (2014). Mas cerca o tema de farpas ao mundo das artes e seus catálogos etéreos, provocações vazias e performers radicais.

Sua sátira não deixa de ser também uma sátira ao cinema de arte, o que torna a vitória em Cannes algo mais irônico. "Filmes de arte são quase um gênero em si", afirma.

WEIWEI E REALIDADE VIRTUAL

Os premiados "The Square", de Ruben Östlund, e "Três Anúncios para um Crime", de Martin McDonagh, se somam a outros 392 títulos que a Mostra de Cinema de São Paulo exibe até 1º/11.

Entre as novidades da 41ª edição, o festival paulistano abraça a produção em realidade virtual, nova fronteira da linguagem cinematográfica. Ao todo, 19 vídeos do gênero serão exibidos no CineSesc para grupos de sete pessoas durante boa parte do evento.

Da produção brasileira, o evento exibe 63 filmes, incluindo obras clássicas protagonizadas pelo ator Paulo José (homenageado do ano com o Prêmio Leon Cakoff), como "Macunaíma", "O Homem Nu" e "O Padre e a Moça".

Entre os filmes do panorama atual, a Mostra programou títulos como "Vazante", de Daniela Thomas, "A Moça do Calendário", de Helena Ignez, "Severina", de Felipe Hirsch, e "Não Devore o Meu Coração", de Felipe Bragança.

O chinês Ai Weiwei, que desenhou o pôster da 41ª edição, é foco de "Sem Perdão", documentário que descortina sua obra e seus embates com o governo da China, e de "Human Flow", em que ele trata, como diretor, do tema da crise dos refugiados em várias partes do mundo.

País homenageado neste ano, a Suíça está representada em 47 filmes, incluindo uma mostra retrospectiva da obra do cineasta Alain Tanner (leia mais abaixo), sete curtas do animador Georges Schwizgebel e títulos da produção contemporânea.

Tradicional evento na Mostra, a exibição ao ar livre no parque Ibirapuera contará com "O Homem Mosca" (1923), de Fred Newmeyer e Sam Taylor, filme que se tornou conhecido pela clássica imagem do sujeito pendurado nos ponteiros de um relógio.

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INGRESSOS PARA A MOSTRA
Os avulsos devem ser adquiridos nas salas ou pela internet; os pacotes e permanentes são vendidos na Central da Mostra

> INDIVIDUAIS
R$ 20 (ingresso inteiro; seg. a qui.) e R$ 24 (ingresso inteiro; sex. a dom.); podem ser adquiridos apenas nas bilheterias dos cinemas. No Cine Olido e nas salas do CCSP, os ingressos custam R$ 4. No restante circuito Spcine, a entrada é grátis

> INTERNET
Pelo site veloxtickets.com é possível comprar ingressos até três dias antes da sessão

> PACOTES

> Permanente integral: R$ 500
(dá direito a todas as sessões); titulares de assinaturas da Folha têm 15% de desconto (R$ 425)

> Permanente especial: R$ 117
para sessões de seg. a sex. até 17h55; para titulares de assinaturas da Folha, R$ 99,45

> 40 ingressos: R$ 374
(válidos para qualquer sessão)

> 20 ingressos: R$ 220
(válidos para qualquer sessão)

> CENTRAL DA MOSTRA
Para venda de pacotes e trocas de ingressos

Conjunto Nacional
Av. Paulista, 2.073, Cerqueira César. Seg. a dom.: 11h às 21h

> ESTANDE FREI CANECA
Apenas para troca de ingressos

Shopping Frei Caneca
R. Frei Caneca, 569, Consolação, 3º piso. Seg. a dom.: 12h às 21h.


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