Folha de S. Paulo


Diretor de '2 Filhos de Francisco', Breno Silveira lança 'Entre Irmãs'

Dan Behr/Divulgação
Cena do filme
Cena do filme "Entre Irmãs", de Breno Silveira

Hoje um peso-pesado das bilheterias brasileiras graças a filmes desavergonhadamente lacrimosos, o cineasta Breno Silveira conta que fazia direção de fotografia para o documentarista Eduardo Coutinho. Rodando "Boca de Lixo" (1993), toparam com uma garota que colecionava bonecas entre os dejetos do Vazadouro de Itaoca (RJ).

A menina se pôs a cantar para a equipe de filmagem, e Breno, operando a câmera, não teve dúvidas: deu um zoom. Coutinho berrou: "Para, seu filho da puta. Se você pesar no drama vai acabar com qualquer filme".

É difícil dosar o chororô nos longas, diz Breno. Ele conta ser chamado de "cineasta das lágrimas" devido a obras como "Gonzaga: de Pai pra Filho" (2012) e, principalmente, "2 Filhos de Francisco" (2005), cinebiografia sobre o início da carreira de Zezé di Camargo & Luciano. Com público de mais de 5,3 milhões de pessoas, se tornou o quarto filme brasileiro mais visto dos últimos 40 anos.

O brasiliense não deixa a emotividade de lado ao enveredar por um caminho mais épico com "Entre Irmãs", que estreia nesta quinta (12).

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entre irmãs

Adaptação do best-seller "A Costureira e o Cangaceiro", de Frances de Pontes Peebles, o filme tem Nanda Costa e Marjorie Estiano nos papéis de duas irmãs forçadas a se separar nos anos 1930: a primeira vai para o lado do cangaço, a segunda enfrenta o preconceito entre a alta sociedade do Recife.

Aos 53, Breno também não quer conter as tantas emoções e prepara o roteiro de um filme sobre a carreira de Roberto Carlos. E com aval do cantor, a despeito de sua conhecida intransigência em permitir biografias.

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Folha - Seus filmes carregam no aspecto emocional e vão na contramão do realismo social brasileiro. O sr. acha que o cinema nacional hoje tem vergonha do melodrama?

Breno Silveira - O cinema atual tem medo de filmar certos assuntos, como o encontro, a morte, a depressão. Ou quando filme isso, tenta ser "cool", sem música. Gosto do drama, é o que me comove. Sou apaixonado pelo cinema de emoção. Como fugir disso?

Mas agora o sr. conta uma história mais épica. Por quê?

Como fotógrafo, sempre quis fazer épico, de sentar no cinema, ouvir música bonita, sair transformado. 'Entre Irmãs' é para ser visto em tela grande. O Brasil faz épicos interessantes, mas muitas vezes falta o aspecto humano, o filme se perde na grandiosidade.

A trilha sonora é quase incessante. Por que carregar tanto na emoção do espectador?

Imagine um épico desses só que seco, sem trilha. Vão falar que o diretor é doente mental. Nos épicos de Hollywood só tem música, seja do Spielberg ou de quem for. O cinema de que eu gosto precisa da trilha para comover.

O sr. teme passar do ponto?

Mas procuro fazer com meus atores a coisa menos melodramática possível. Se conseguir achar isso, o drama deixa de ser frio e pega qualquer tipo de espectador. Meu trabalho é buscar a emoção verdadeira. Se dizem que transbordou do vaso, não foi minha intenção. Fico filtrando o tempo todo até achar o ponto. A gente trabalha no limite de "Meu Pé de Laranja Lima" [de 1970, de Aurélio Teixeira]. Se passar, fodeu.

De onde vem essa emoção?

Não quero ser um diretor nórdico. A gente é latino. Vivi fora do Brasil e comecei a perceber o quanto a gente é emocional. Gosto da emoção, está em mim. Meu cinema me representa como brasileiro e não vou ter vergonha nunca. A nossa emoção é exagerada, mas não pode ser falsa.

Por que o sr. mais uma vez se volta para o interior do país?

As trajetórias humanas desse Brasil profundo me encantam. O ambiente urbano não me interessa. A coisa mais incrível foi ter morado em Piranhas [AL] para as filmagens e na pior fase das cagadas que aconteciam no país [em 2016]. Lá só tinha brasileiros sonhadores, humildes, com uma beleza que foi se perdendo nas cidades. O interior ainda tem o Brasil bonito principalmente no momento mais feio da nossa história.

Por que os laços familiares são tão forte em sua obra?

É a minha fissura. Os laços são o que mais falta no mundo. Tenho certeza de que jamais farei comédia e ficção científica. Continuarei falando sobre laços. Agora quero falar do laço homem e mulher.

Seu próximo projeto é uma cinebiografia sobre Roberto Carlos. Como está o projeto?

Estamos na pesquisa do roteiro. O Roberto faz parte da vida amorosa da nação inteira, e é como milhões de brasileiros e como meus personagens. Todos somos migrantes, viemos de algum lugar, cheios de emoção para dar.

Mas Roberto Carlos é conhecido por se opor a biografias.

Ele está num momento bonito da carreira, se abrindo. Não há liberdade cerceada. Não sei o que ele sentirá quando o filme estiver pronto. Mas se abrir levou ele às lágrimas várias vezes.


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