Folha de S. Paulo


'Tudo é Projeto' faz passeio duplo com arquiteto Paulo Mendes da Rocha

Diego Padgurschi/Folhapress
O arquiteto brasileiro Paulo Mendes da Rocha
O arquiteto brasileiro Paulo Mendes da Rocha

"Tenho consciência que o negócio está indo para a estratosfera", diz a dada altura o arquiteto capixaba Paulo Mendes da Rocha no filme "Tudo é Projeto". Não à-toa. Uma das diretoras, a filha Joana Mendes da Rocha, queria justamente extrair do pai "o pensador, através de alguns exemplos de sua arquitetura".

E consegue. Conduzido pelas perguntas e a presença de Joana, o filme, que passa neste 10 de outubro no Festival do Rio e também será exibido na Mostra Internacional de São Paulo (fora da competição), faz um duplo passeio pela obra de Mendes da Rocha.

Visita a Marquise do Patriarca, a Casa do Butantã, a Casa Geraque, a Casa Masetti, o Museu dos Coches, em Portugal, e as obras do Cais das Artes, em Vitória, e do Sesc 24 de maio, inaugurado recentemente. Mostra as obras e a cidade vista pelas obras.

Explica o desenho da cadeira Paulistano: "Estou recebendo royalties pela primeira vez na vida de uma coisa que desenhei em 1956", incorpora imagens de arquivo da entrega do Pritzker, em 2006, e acompanha Mendes da Rocha ao recebimento da Medalha de Mérito Cultural, em Lisboa, e à entrega do Leão de Ouro, em 2016, na Bienal de Veneza.

A cada obra visitada, abrem-se oportunidades para as reflexões do arquiteto humanista de 89 anos sobre cidade, técnica, moradia, ocupação urbana, a sociedade brasileira e suas memórias pessoais. Surge, como tema fundamental, a admiração ao pai, engenheiro naval da Politécnica, grande influência e referência.

Entre obras e máximas vai sendo desenhado o personagem de humor sempre fino e alto poder de sedução pela palavra. Num dos momentos de destaque, por exemplo, Mendes da Rocha explica o Copan. Depois de uma introdução sobre o que seria o apartamento ideal - o que teria janelas para os dois lados, mas que resultaria num edifício muito fino, o arquiteto mostra, com uma tirinha de papel, que Niemeyer resolveu encurvar o prédio para garantir a sua sustentação. "Não tem nada a ver com as formas das montanhas. Ele sempre deixou que se falasse isso porque ele era muito sacana", diz.

"Não sou arquiteta e a arquitetura que eu conheço é de morar e de ver. Não queria que ninguém falasse sobre a obra dele no filme, apenas ele. O ponto de partida das entrevistas sempre era uma obra e toda essa parte mais filosófica dele inevitavelmente aparecia", conta Joana.

"Ele tem essa propriedade de expor as coisas de forma muito abrangente. Ele vai indo e parece que foi embora e de repente ele amarra tudo".

"É um filme sobre arquitetura e também sobre vida e sobre a relação familiar. Dele com o pai e dele com a filha", finaliza a diretora Patricia Rubano.

Filmado entre 2009 e 2016, "Tudo é Projeto" tem pré-estreia na mostra Itinerários Únicos, da Première Brasil, no Festival do Rio, em 10 de outubro. Foi Financiado pelo Fundo Setorial do Audiovisual e produzido com exclusividade para o Curta! pela Olé Produções com o apoio da Casa da Arquitetura do Porto. Na TV, o documentário estreia no Curta! em 14 de novembro, às 22h.

ISTO É PAULO MENDES DA ROCHA

"Alguém já disse e eu posso dizer: fizemos a cidade para poder conversar."

"A classe dominante infame não gosta de liberdade."

"O objetivo da arquitetura é exibir o êxito da técnica na satisfação dos desejos."

"Hoje em dia, numa cidade como São Paulo ou em qualquer cidade com mais de 100 mil habitantes, a casa isolada num terreno já não devia se fazer mais. A casa contemporânea tem que estar num prédio, porque essa concentração nos interessa. Para que os meninos possam ir na escola a pé -portanto ela está logo ali. Fica difícil imaginar um metrô para uma cidade só de casas num terreno horizontal. Ele precisaria andar 1 km para servir a apenas 20 casas."

"Em São Paulo, existe uma moléstia mental em relação à segurança e tudo leva grades."

"A arquitetura ampara a imprevisibilidade da vida."


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