Folha de S. Paulo


CRÍTICA

Em boa forma, The National volta à sensação de claustrofobia

AFP PHOTO/Frazer Harrison
A banda norte-americana The National lançou sete álbuns nos últimos 17 anos
A banda norte-americana The National lançou sete álbuns nos últimos 17 anos

SLEEP WELL BEAST (muito bom)
ARTISTA The National
LANÇAMENTO 4AD
QUANTO cerca de R$ 36 no site da Amazon

*

Nos sete álbuns lançados pela banda norte-americana The National nos últimos 17 anos, Matt Berninger cultivou a imagem de atormentado e misantropo. O quinteto é formado por duplas de irmãos instrumentistas –Scott e Bryan Devendorf e Aaron e Bryce Dessner–, enquanto o solitário Berninger, segundo os companheiros, é um apadrinhado de todos eles.

Berninger é conhecido também por beber e esquecer letras. Em um show no Rio, em 2011, dividiu vinho com a plateia do Circo Voador. Em 2015, depois de um episódio constrangedor nos EUA, passou a usar teleprompter. A bebedeira, diz, é para lidar com a ansiedade no palco.

PARANOIA

É também a sensação de inadequação a força-motriz das letras de Berninger e da cadência do indie rock downtempo do National. Em "Sleep Well Beast", que dá sequência aos aclamados "Trouble Will Find Me" (2013) e "High Violet" (2010), os músicos tratam de sentimentos de isolamento, paranoia e nostalgia: "Não é culpa de ninguém, só não temos nada mais a dizer", ecoa "Guilty Party".

É charme. Há muito a ser dito a respeito de "Sleep Well Beast", a começar pela introdução de elementos eletrônicos emprestados dos alemães do Mouse on Mars. Em "Walk It Back", enquanto Berninger avisa "esquece, nada do que eu mudo muda alguma coisa", o quinteto flerta de maneira inédita com o synthpop.

A faixa ainda emenda uma declaração atribuída a Karl Rove, ex-assessor do ex-presidente americano George W. Bush, a quem a banda já dirigiu palavras pouco amistosas nas redes: "Somos um império agora e, quando agimos, criamos nossa própria realidade", registra a faixa.

A pegada eletrônica de "I'll Still Destroy You" vai em outra direção: "Tenho amigos indefesos e mau gosto para bebidas", suspira Berninger a respeito de outro tema recorrente em seu trabalho: álcool, drogas e ressaca moral. A narrativa segue em "Carin At The Liquor Store", que leva o nome de sua mulher e coautora de algumas letras.

Todas as marcas que National construiu com mais consistência desde "Alligator" (2005), seu terceiro álbum, estão na nova obra em sua melhor forma: a batida característica de Bryan Devendorf em "Day I Die", candidata a hit; o crescendo de "The System Only Dreams In Total Darkness"; a claustrofobia noventista de "Turtleneck".

A cabana que ilustra a capa de "Sleep Well Beast" também encerra a estética claustrofóbica da obra. A casa no interior do Estado de Nova York é o atual ponto de encontro da banda, que hoje se distribui por Cincinatti, sua cidade-natal, Los Angeles, Nova York, Copenhagen e Paris. Ali o quinteto compõe, grava, briga e faz as pazes.

*

Ouça no deezer


Endereço da página: