Folha de S. Paulo


CRÍTICA

Lenga-lenga sem ação, novo 'Blade Runner' deve decepcionar público

BLADE RUNNER 2049 (ruim)
DIREÇÃO Denis Villeneuve
ELENCO Harrison Ford, Ryan Gosling, Jared Leto
PRODUÇÃO EUA, Reino Unido, Canadá, 2017, 14 anos
QUANDO estreia nesta quinta (5)
Veja salas e horários de exibição

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Uma sequência para "Blade Runner" era um desafio duplo. Para quem ama o original, teria de ser pelo menos tão boa quanto ele. E precisava também reverter a opinião de quem não gosta do filme de 1982 –sim, essas pessoas existem, e este texto é uma prova concreta.

Mas a continuação não empolga. O ritmo arrastado imposto pelo diretor Denis Villeneuve chega à beira do insuportável lá pela metade das duas horas e tanto de exibição. O cineasta deve ter entre seus favoritos "2001", de Stanley Kubrick, e "Stalker", de Andrei Tarkóvski.

Teria marcado pontos com um resultado próximo dessas obras-primas de sci-fi "cabeça". Mas a discussão do relacionamento entre humanos e replicantes é frouxa, e falta adrenalina ao enredo.

"Blade Runner", o primeiro e superestimado filme, exibia cenas tensas de ação, com Harrison Ford caçando replicantes nas ruas entupidas de gente, no alto de prédios, sob tempestade. Filme de ação com estofo intelectual.

"Blade Runner 2049" apresenta escassas cenas de enfrentamento físico. Na maior parte da trama, é apenas uma lenga-lenga existencial.

O primeiro longa tem o mérito de, aos poucos, conduzir o espectador a uma grande dúvida: Deckard (Ford) é humano ou também é um replicante? Agora, em poucos minutos de filme é revelado que o "blade runner" K, interpretado em modo sonâmbulo por Ryan Gosling, é replicante.

O encontro entre Deckard e K, na teoria um momento crucial da trama, é uma cena bem tosca. O estranhamento acaba se resolvendo de um jeito um tanto idiota, não faz o menor sentido.

O clima de policial noir desaparece completamente. Isso atrapalha a narrativa e, principalmente, põe abaixo qualquer interesse romântico dos personagens.

O jogo de sedução entre Rick Deckard e a replicante Rachael (Sean Young) foi quente há 35 anos. Agora, a relação de K (Gosling) com sua namorada virtual Joi (Ana de Armas) não decola.

Sem ação, tensão sexual ou novidades em sua visão de futuro, "2049"decepciona.

Curioso: uma das críticas da minoria que não enaltecia o primeiro longa é que ele se afastou do tom do conto original de Philip K. Dick para se tornar um filme com mais ação. Agora, quando a sequência pisa no freio da aventura, consegue ficar pior.

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Assista ao trailer de 'Blade Runner 2049'

Assista ao trailer de 'Blade Runner 2049'


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