Folha de S. Paulo


Ato reúne 200 pessoas em apoio ao MAM após polêmica com artista nu

Guilherme Genestreti/Folhapress
Ato reúne 200 pessoas em defesa do MAM
Ato reúne 200 pessoas em defesa do MAM

Centenas de pessoas, incluindo artistas, atores e cineastas, fizeram um ato na tarde de domingo (1º) em defesa do MAM (Museu de Arte Moderna de São Paulo) na sede da instituição, no parque Ibirapuera.

Segurando cartazes com a inscrição "Somos todos MAM", eles deram as mãos no saguão e gritaram "censura, não" e "arte não é crime".

Segundo a organização, o ato chegou a reunir mais de 300 pessoas. Entre os participantes estavam os artistas Paulo Pasta, Fabio Miguez e Alex Cerveny, além de diretores de museu e curadores.
Entre os participantes do ato estavam os artistas plásticos Paulo Pasta, Fabio Miguez e Alex Cerveny, além de diretores de museu e curadores.

O museu paulistano tem sido alvo de ataques desde que, na última terça (26), sediou uma performance com um nu artístico. Num vídeo que circulou nas redes sociais, uma criança aparece tocando a mão e a perna do artista Wagner Schwartz, que estava sem roupa. A performance evoca "Bicho", obra manipulável da artista Lygia Clark (1920-1988).

No último sábado (30), um grupo fez um protesto na frente do museu, acusando-o de promover a pedofilia, que terminou em agressões físicas contra visitantes e colaboradores da instituição.

O ato deste domingo saiu em defesa do MAM.

"Houve uma deturpação completa do que ocorreu. Eu estava aqui no dia da performance e não houve nada próximo de qualquer ato sexual", diz o curador Cauê Alves e professor do Departamento de Arte da PUC-SP. "Há uma onda que não está se opondo a coisas pontuais, mas à arte como um todo."

Presente no ato, a atriz Maria Manoella disse que é uma "tristeza, um retrocesso para as artes e para o país" a campanha contra o MAM.

"É assustador esse movimento de grupos pequenos que ganham voz enorme sem entendimento do que acontece", comentou o cineasta Caetano Gotardo. Ao seu lado, o também diretor de cinema Gustavo Vinagre concordou: "Escolhem palavras de fácil adesão, como pedofilia, que não tem nada a ver com o que aconteceu."

Sob gritos de "abaixo, Doria", os participantes do ato também entoaram críticas ao prefeito de São Paulo, que publicou um vídeo condenando a performance.

O ato terminou com os participantes de mãos dadas dando uma volta pelo museu.

AMEAÇAS

Em nota à imprensa, o MAM informou que "repudia as agressões que vem sofrendo nos últimos dias por grupos radicais".

Segundo o texto, os funcionários da instituição também têm recebido ameaças por meio de telefonemas anônimos e mensagens em redes sociais. Em resposta, foram registrados dois boletins de ocorrência apontando ameaças de dano ao patrimônio e à integridade física.

O museu também informa que a performance se deu "com a sala sinalizada, incluindo a informação de nudez artística".

O protesto do sábado, que terminou em agressão a funcionários do MAM, foi convocado por uma página da internet chamada Ativistas Independentes, grupo que reúne mais de 20 mil pessoas nas redes sociais e apoia a candidatura de Jair Bolsonaro e elogia a ditadura militar.

Na página, informam que pretendiam fazer mais um protesto em frente ao museu no domingo, mas que foi adiado "em virtude da abertura de inquérito. E que "caso não haja a devida providência dos órgãos competentes", farão outro ato.

O museu não se pronunciou sobre as declarações de Doria.

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Leia a íntegra da nota do MAM:

O Museu de Arte Moderna de São Paulo - MAM repudia as agressões que vem sofrendo nos últimos dias por parte de grupos radicais em sua sede no Parque Ibirapuera. Na sexta-feira, o museu foi invadido e seus colaboradores e visitantes foram alvo de ofensas e agressões verbais, em claro ato intimidatório.

No sábado, o museu foi palco de novo protesto patrocinado pelo mesmo grupo de indivíduos, que desta vez, além das agressões verbais, cometeram atos de violência física contra visitantes e colaboradores.

Em resposta às agressões, o museu registrou dois boletins de ocorrência, nos quais constam também as denúncias de ameaças de danos ao patrimônio e à integridade física sofridas pelo museu, por meio de telefonemas anônimos e mensagens em plataformas de mídias sociais.

O MAM esclarece mais uma vez que a performance 'La Bête', realizada na abertura da Mostra Panorama da Arte Brasileira, se deu com a sala sinalizada, incluindo a informação de nudez artística, seguindo o procedimento regularmente adotado pela instituição de informar os visitantes quanto a temas sensíveis.

O trabalho apresentado na ocasião não tem conteúdo erótico e se limitou a uma leitura interpretativa da obra Bicho, de Lygia Clark, historicamente reconhecida pelas suas proposições artísticas interativas.

O museu reitera ainda que a criança que aparece no vídeo veiculado por terceiros era visitante e estava acompanhada e supervisionada por sua mãe e que as referências à inadequação da situação são resultado de desinformação, deturpação do contexto e do significado da obra.

O MAM considera pertinente o debate para o aprimoramento e difusão do marco legal de classificação indicativa no ambiente museológico, ao mesmo tempo em que defende a liberdade de expressão na produção cultural.

O museu agradece às manifestações de apoio que tem recebido de instituições culturais, de artistas e do público em geral e segue empenhado em esclarecer e estimular um diálogo construtivo, tolerante e plural com todos os segmentos da sociedade para o fortalecimento da cultura e da nossa democracia.


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