Folha de S. Paulo


Juca Kfouri lança 'Confesso que Perdi', com histórias sobre futebol e política

Eduardo Anizelli/Folhapress
O jornalista Juca Kfouri na sala do seu apartamento no bairro de Higienópolis; 'nunca planejei nada na vida', afirma
O jornalista Juca Kfouri na sala do seu apartamento no bairro de Higienópolis

Em 1989, a "Placar" publicou uma reportagem sobre o entusiasmo da torcida palmeirense com a boa campanha do time no Campeonato Paulista. Sob o comando do corintiano Juca Kfouri, a revista destacou chamada na capa: "A Fiel verde está feliz".

Dias depois, o jornalista chegou ao Pacaembu para acompanhar um jogo do Corinthians e logo viu, do outro lado da arquibancada, uma faixa da Gaviões da Fiel, a maior torcida organizada do clube. "Juca Kfouri, só existe uma Fiel Torcida", dizia.

No intervalo da partida, ainda ouviu um coro: "Ê, ê, ê, o Juca vai morrê".

Apesar do susto, ele saiu ileso do estádio e, 28 anos depois, lança, pela Companhia das Letras, o livro de memórias "Confesso que Perdi", em que conta episódios como esse do Pacaembu.

Embora o futebol tenha grande presença na trajetória do colunista da Folha, a obra não se restringe às histórias do esporte.

Aos 67 anos, Juca revive seus anos de militância na ditadura militar, sua participação na campanha das Diretas-Já e seus contatos com os presidentes da República da história recente do país.

Ao longo das 248 páginas, há ainda lembranças da amizade com Sócrates e da relação instável com Pelé, além de recordações das experiências à frente das Redações de "Placar" e "Playboy".

Futebol, política e jornalismo alternam-se, portanto, ao longo de 21 capítulos, em estilo fluente e descontraído.

"Nunca planejei nada em minha vida", escreve Juca, que, entre 1968 e 1975, conciliou a ação na clandestinidade, a vida como estudante de ciências sociais da USP e o trabalho na editora Abril.

Justamente na estreia da seleção na Copa de 1970, ele soube da morte de Norberto Nehring, um de seus ídolos da juventude.

Membro da ALN (Aliança Libertadora Nacional) como Juca, Nehring havia acabado de voltar ao Brasil depois do exílio em Cuba quando foi torturado e morto pelos agentes da ditadura.

Ainda hoje, o jornalista não se conforma com o fato de Nehring não o ter procurado após o desembarque. Na ALN, a tarefa de Juca era "ajudar a tirar gente do sufoco".

Ele conta que ficou "deprimido depois de escrever esse trecho", o que o levou a uma pausa de dois dias na produção do livro. Foi o único solavanco de um trabalho que durou apenas quatro meses.

As reminiscências políticas do autor viajam pelas últimas cinco décadas. Ao se aproximar dos dias de hoje, ele critica Dilma Rousseff ("prometia o que não poderia cumprir"), o que não o impede de atribuir a queda da ex-presidente a um golpe.

O olhar de Juca sobre o jornalismo brasileiro também percorre quase meio século. Aponta as inovações tecnológicas como um avanço para a imprensa e exalta uma geração de repórteres que, como ele, cultivam visão crítica dos bastidores do futebol.

Por outro lado, é severo ao analisar a imprensa da atualidade. Para Juca, hoje o jornalismo está menos preocupado em "defender os verdadeiros interesses da população brasileira" quando comparado ao praticado no início da sua carreira, nos anos 70.

"Além disso, o rigor das manchetes tem sido muito maior de um lado [refere-se a Lula e Dilma] do que de outro [Temer]. Queria um tratamento igual", complementa.

PERTO DA MORTE

Na coleção de memórias, os mais notáveis parágrafos, segundo o próprio Juca, não são de autoria dele.

O jornalista se refere ao texto da sua filha, a psicóloga Camila Kfouri, 39, sobre uma cirurgia à qual ele se submeteu em 2015 e que, por uma fatalidade, resultou em "brutal hemorragia".

Nos dias seguintes, achou que estava prestes a morrer.

É só no epílogo que o título, "Confesso que Perdi", se revela por inteiro. Mas o fato é que Juca não se dá por vencido e descarta tirar o time de campo. "Ainda quero fazer muitas bobagens", brinca.

Confesso Que Perdi - Memórias
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LANÇAMENTO ACONTECE NO DIA 3 EM SP

"Confesso que Perdi", livro de memórias de Juca Kfouri, será lançado em São Paulo no dia 3 de outubro (terça), às 19h. O evento vai acontecer na livraria Saraiva do shopping Higienópolis.

Em Belo Horizonte, a sessão de autógrafos será no dia 17 do mesmo mês, na livraria Leitura, no shopping Savassi, às 19h. O evento em Campinas ocorrerá em 24 de outubro na Saraiva do shopping Iguatemi, às 19h.

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CONFESSO QUE PERDI
AUTOR Juca Kfouri
EDITORA Companhia das Letras (248 págs.)
QUANTO R$ 39,90


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