Folha de S. Paulo


CRÍTICA

'Rodin' enfatiza criação artística, mas peca pelo convencionalismo

Divulgação
SAO PAULO/SP BRASIL. 19/07/2017 - Aberura do Instituto Moreira Salles na Av Paulista.(foto: Zanone Fraissat/FOLHAPRESS, ILUSTRADA)***EXCLUSIVO***
Auguste Rodin (Vincent Lindon) e Camille Claudel (Izïa Higelin) em cena do longa sobre o escultor

RODIN (bom)
DIREÇÃO Jacques Doillon
ELENCO Vincent Lindon, Izïa Higelin, Séverine Caneele
PRODUÇÃO França/Bélgica, 2017, 12 anos
Veja sala e horários de exibição

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Como parte das comemorações do centenário da morte do escultor Auguste Rodin, que ocorre neste ano, o veterano Jacques Doillon recebeu a encomenda de um documentário sobre o artista. Decidiu-se pela ficção, argumentando que Rodin deixou poucos documentos escritos.

Mas não se trata de uma cinebiografia ao pé da letra. Doillon mostra apenas alguns anos da vida do escultor –a partir de 1880, quando tinha 40 anos–, e privilegia fundamentalmente o trabalho, a lida com a obra, com a matéria. Isso já está presente na primeira cena. A vida pessoal fica em segundo plano, e o conturbado contexto artístico e político da época não é objeto de grande atenção.

Vincent Lindon encarna um Rodin satisfatório na caracterização de traços importantes do escultor como a introspecção, a angústia e a obsessão. O ator já não se sai tão também na composição da gestualidade ao trabalhar a argila e o gesso, assim como no olhar que dirige ao modelo e à obra que executa –sempre o mesmo. As falas imaginadas por Doillon, como "sou apenas um operário que sabe ler", soam muitas vezes um tanto pomposas.

O filme destaca o processo de criação do monumento a Balzac, obra revolucionária que rompeu com o academicismo reinante, cuja elaboração absorveu e atormentou Rodin durante vários anos. Resultado de dezenas de estudos, o nu que apresentou aos que fizeram a encomenda foi violentamente repelido. A versão final, reelaborada pelo artista –que evoca a força do escritor ao invés de representá-lo de modo realista– também foi objeto de uma enxurrada de críticas.

A relação com Camille Claudel (Izïa Higelin), discípula, amante e depois concorrente -que já rendeu outros filmes- é mostrada aqui principalmente em sua interface com a criação. Doillon não se furta a mostrar as promessas de casamento jamais cumpridas, a rivalidade com a rústica Rose Beuret (Séverine Caneele), mãe de seu filho, e companheira de toda a vida, mas nada disso é aprofundado.

O que sobressai é a cumplicidade artística com Claudel. Até os ímpetos eróticos de Rodin ao lado dela servem para caracterizar o fascínio do escultor pelo corpo feminino, que exaltou inúmeras vezes em sua obra em representações cheias de sensualidade.

A opção pela ênfase no processo de trabalho do artista é feliz e o retrato de Doillon nunca cai na condescendência, mas sua mise-en-scène está em outro diapasão. A iluminação que valoriza a textura das esculturas e alguns movimentos de câmera fluidos e elegantes são requintes que não conseguem esconder o convencionalismo e a frieza da forma. Criador ardente e inovador, Rodin merecia algo mais ousado, capaz de levar o filme a outro patamar.

Assista ao trailer de 'Rodin'

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