Folha de S. Paulo


CRÍTICA

Filme 'O Assassino' entrega velho e surrado mais do mesmo

Divulgação
Michael Keaton em cena do filme 'O Assassino - O Primeiro Alvo', de Michael Cuesta
Michael Keaton em cena do filme 'O Assassino - O Primeiro Alvo', de Michael Cuesta

O ASSASSINO: O PRIMEIRO ALVO (regular)
(American Assassin)
DIREÇÃO Michael Cuesta
ELENCO Dylan O'Brien, Michael Keaton, Sanaa Lathan
PRODUÇÃO EUA, 2017, 16 anos
QUANDO estreia nesta quinta (21)

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Por vezes os distribuidores brasileiros gostam de complicar. Resolveram traduzir "American Assassin" por "O Assassino: O Primeiro Alvo", no lugar de um simples e direto "Assassino Americano", fiel ao original.

Querem esconder que se trata, infelizmente, de um filme de ação genérico? Ou induzir o espectador a pensar que um futuro longa será feito para um hipotético segundo alvo? Afinal, o livro que serviu de base para o roteiro está numa série de 15 aventuras escritas por Vince Flynn.

O fato é que o longa dirigido por Michael Cuesta (de "O Mensageiro", com Jeremy Renner) entrega aquele velho e surrado "mais do mesmo" que nos habituamos a ver no cenário hollywoodiano atual.

Mas o longa começa fazendo um comentário agudo, e provavelmente involuntário, sobre a pobreza estética que envolve o cinema contemporâneo (deixemos claro: a pobreza se estende para além dos domínios americanos).

Mitch Rapp (Dylan O'Brien) está em Ibiza com sua namorada Katrina (Charlotte Vega). As primeiras imagens que vemos são de seu registro do momento com uma câmera de celular. Quando muda para o registro da câmera do filme propriamente dito, mal percebemos a diferença, já que a textura continua suja e a tremedeira ainda está em curso.

Talvez inconscientemente Michael Cuesta dá a entender que as imagens que vemos hoje no cinema são tão desprovidas de qualidade quanto as imagens captadas por um amador com seu celular numa tarde ensolarada de férias.

Depois a coisa assenta e o desleixo só volta nas cenas de ação. Isso acontece porque a câmera precisa se movimentar mais que os personagens para disfarçar a falta de coreografia e artesanato, itens caros demais, praticamente proibitivos nestes tempos inflacionados em que vivemos.

Voltemos à trama. Mitch pede Katrina em casamento e recebe um "sim" como resposta. Quando vai pegar uma bebida para celebrarem, um bando de terroristas aparece atirando em tudo que se move, e uma das mortas é justamente Katrina. Mitch sobrevive por algum motivo que não conseguimos entender, e essa sobrevivência será comentada por uma personagem mais adiante no filme.

Corta para 13 anos depois. Vemos Mitch prestes a concluir seu plano de vingança. As coisas não correm exatamente como ele planejou, mas seus métodos foram estudados por Irene Kennedy (Sanaa Lathan), da CIA, sem que ele soubesse. Ou seja, ele sobrevive a mais um encontro com os terroristas, mas passa a ser treinado como membro do esquadrão antiterrorista liderado por um experiente veterano chamado Stan Hurley (Michael Keaton).

A missão deles é perseguir um vilão chamado Ghost (Taylor Kitsch, num claro caso de má escalação de elenco), que pretende destruir o mundo. Sim, parece mesmo trama de desenho animado, ou de um filme sessentista do 007. Mas falta aqui leveza e charme, necessários para que uma trama dessas se sustente.

Lathan e Keaton fazem o que podem para dar alguma credibilidade ao projeto. Se não saem chamuscados da experiência, suas boas atuações ficam no vazio diante de tantas reviravoltas esquisitas que o filme apresenta.

Em diversos momentos sentimos que a produção não está preocupada com qualidade. O que não seria novidade em Hollywood, onde costuma valer o lema perpetuado por P. T. Barnum: "Ninguém nunca perdeu um dólar subestimando o gosto do público americano". Talvez estejam subestimando demais.


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