Folha de S. Paulo


Emmy zomba de Donald Trump e levanta bandeiras políticas

Se Donald Trump tivesse ganhado o Emmy (pelo reallity "O Aprendiz"), talvez não fosse presidente dos EUA hoje. "A culpa é de vocês", zombou o apresentador Stephen Colbert, na abertura do prêmio da TV americana, responsabilizando júris e público pelo triunfo do republicano.

Não foi a única vez que as piadas miraram Trump. Ao ser premiado como ator coadjuvante em comédia, Alec Baldwin prestou sua "homenagem" com ironia: "Trump, aqui está seu Emmy", disse. O ator foi reconhecido pelo retrato cômico do presidente em "Saturday Night Live".

A atração de esquetes confirmou seu favoritismo e levou quatro troféus. Também venceu por melhor atriz coadjuvante (Kate McKinnon) e como programa de variedades.

Frederic J. Brown/AFP
Alec Baldwin durante a 69ª cerimônia do Emmy
Alec Baldwin durante a 69ª cerimônia do Emmy; ator foi premiado por retrato cômico de presidente

Em total de estatuetas, porém, perdeu para a minissérie "Big Little Lies" e para o drama "The Handmaid's Tale", criações que denunciam situações de opressão da mulher e que levaram cinco prêmios cada uma.

"Big Little Lies" valeu Emmys a Nicole Kidman (atriz em minissérie ou telefilme), Laura Dern (atriz coadjuvante nos mesmos gêneros) e Alexander Skarsgard (ator coadjuvante, na pele do violento marido de Kidman).

Jean-Marc Vallée, com fértil carreira no cinema, levou o prêmio de direção pela mesma produção, coroada como minissérie do ano.

Elisabeth Moss venceu em numa das categorias mais esperadas da noite, melhor atriz em drama, por "The Handmaid's Tale", que levou ainda como melhor série nesse gênero e melhor coadjuvante.

O prêmio de direção de série dramática também foi para "Tale", numa quebra da mesmice de anos anteriores que viu uma mulher, Reed Morano, ser premiada.

A consagração de "SNL" e de séries com viés feminista é simbólica numa era em que republicanos encarnam um acirramento do conservadorismo no poder. O recado político estava prenunciado já na escolha do mestre de cerimônias -Colbert, apresentador de "The Late Show with Stephen Colbert", é conhecido por suas sátiras.

Ele entrou em cena à frente de um grupo de bailarinas vestidas com o figurino da série "Handmaid's Tale": capa vermelha e chapéus brancos. É a mesma roupa usada por ativistas feministas em ruas de cidades americanas.

Colbert também reservou uma surpresa ao público, a participação do ex-porta-voz de Trump, Sean Spicer, autoironizando sua declaração de que a posse do republicano, em janeiro, teria reunido público recorde. O apresentador também destacou a diversidade racial e de gêneros entre os indicados (e também entre convidados na plateia).

Embora não tenha vencido na categoria melhor programa de competição (o troféu foi para "The Voice"), a drag RuPaul foi homenageada em quadro rápido. Ela comanda um programa em que drags participam de diversas provas relacionadas ao universo da música, do cinema e de divas.

Os vencedores na categoria melhor roteiro em série de comédia foram dois dos mais aplaudidos da noite: Aziz Ansari e Lena Waithe, de "Master of None", série em que os premiados (ele, de origem indiana, ela, negra) também atuam. O programa subverte noções do politicamente correto, comentando ações do americano letrado.

Julia Louis-Dreyfus ganhou pela sexta vez consecutiva o troféu por sua atuação em "Veep", um recorde. O seriado também foi agraciado na categoria melhor comédia. Ali, Louis-Dreyfus interpreta a vice-presidente dos EUA.

Dois favoritos saíram sem troféu. "Westworld" e "Stranger Things" levaram estatuetas técnicas, mas não na noite deste domingo, quando foram anunciadas as principais.


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