Folha de S. Paulo


Crítica

Feminismo e diversidade pautam premiação do Emmy 2017

A cada ano, a transmissão da entrega do Emmy fica a cargo de uma das quatro grandes emissoras abertas da televisão americana: Fox, ABC, NBC e CBS. Em 2017, a honraria coube a esta última, que escalou Stephen Colbert, apresentador do talk show "The Late Show" e um dos mais ácidos críticos de Donald Trump, para comandar a cerimônia.

Estava dada a senha para a noite. A política apareceu no monólogo de abertura, como era esperado. E seguiu noite adentro, tanto nos prêmios como nos agradecimentos.

Logo no começo, o troféu de melhor ator coadjuvante em série dramática foi para John Lithgow, que interpreta o ex-premiê britânico Winston Churchill em "The Crown" (Netflix) –o tipo de estadista que, para muita gente, faz falta nos dias de hoje.

Laura Dern venceu como atriz coadjuvante em minissérie por "Big Little Lies" (HBO), baseada num livro escrito por uma mulher, produzida por uma mulher e interpretada por um elenco majoritariamente feminino.

Quando Alec Baldwin ganhou como coadjuvante em comédia por sua imitação de Trump em "Saturday Night Live", a plateia prendeu a respiração. Ao invés de atacar o presidente –que praticamente declarou guerra ao ator em uma rede social– Baldwin saiu-se com elegância, dizendo que "a arte é mais importante que a política".

A política de gênero tampouco se fez de rogada. Alexander Skarsgåard (melhor ator coadjuvante em minissérie por "Big Little Lies") agradeceu por terem feito com que ele se sentisse "como uma das mulheres". E a própria estatueta do Emmy –que "deu uma entrevista" a Colbert– foi personificada por ninguém menos do que a drag queen RuPaul.

A diversidade foi outro tema recorrente. Mereceu até um clipe mostrando como a indústria está deixando de ser dominada por homens brancos heterossexuais.

Da metade para o fim da cerimônia, o anfitrião praticamente desapareceu. Mesmo com Colbert nas coxias, a política continuou dando o tom da noite. Como no discurso das feministas da velha guarda Lily Tomlin, Jane Fonda e Dolly Parton, que foram apresentar um prêmio. Ou no apelo pelo fim da violência doméstica feito por Nicole Kidman em seu discurso de agradecimento por ter ganho o Emmy de melhor atriz em minissérie por "Big Little Lies" (em que sua personagem apanha muito do marido).

Sterling K. Brown, o único negro entre os seis indicados, levou o prêmio de melhor ator em série dramática por "This Is Us" (Fox Premium, no Brasil). E Riz Ahmed, britânico de origem paquistanesa, bateu Robert DeNiro no páreo de melhor ator em minissérie ou filme. Ambos são ótimos, mas dá para desconfiar que até essas premiações mandaram mensagens políticas.

Por fim, "The Handmaid's Tale" (Hulu), uma distopia sobre a repressão de mulheres, ganhou como melhor série dramática. Não são poucos os críticos que apontam o programa como uma metáfora do que os conservadores planejam fazer com os EUA.

Ou seja: o Emmy de 2017 foi politizado do começo ao fim. Será que permanecerá assim durante todo o mandato de Donald Trump?


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