Folha de S. Paulo


Show tapa-buraco do Maroon 5 só ressalta ausência de Lady Gaga

Silvia Izquierdo/Associated Press
Adam Levine, vocalista do Maroon 5, durante show no Rock in Rio
Adam Levine, vocalista do Maroon 5, durante show no Rock in Rio

Se alguém tinha dúvida sobre o tamanho do buraco deixado pela ausência de Lady Gaga na primeira noite do Rock in Rio, o show de seu substituto, o Maroon 5, serviu para dimensionar o estrago.

Foi como trocar um banquete de várias etapas por uma daquelas promoções de fast food – e boa parte do público ainda vai encarar o mesmo cardápio na noite deste sábado (16), quando a banda americana fecha novamente o dia.

Em sua quinta passagem pelo país –foram 14 shows entre 2008 e 2016–, o sexteto liderado por Adam Levine mostrou o exato oposto do que se esperava de Gaga: um show burocrático, pouco imaginativo, absolutamente convencional.

A seu favor, os rapazes tinham um caminhão de sucessos radiofônicos que o público conhece de cor e queria ouvir – mas são, em sua maioria, rockzinhos banais, sem um décimo da energia ou da atitude das melhores canções da adoentada Gaga.

A banda abriu o show com uma sequência forte: os megahits "Moves like Jagger", "This Love" e o sucesso "Harder to Breath". Deveria ter sido apoteótico, mas foi apenas tépido, indicando o clima geral da apresentação.

Usando uma camiseta preta onde se lia "amor eterno" (em português mesmo), o galã Levine esteve simpático desde o início, interagindo com a plateia e a elogiando com frequência.

Bom vocalista, mostrou seus falsetes e agudos, mas pareceu se poupar – afinal, estava no segundo de três shows em sequência (Curitiba e dois no Rock in Rio).

Seus colegas de banda –James Valentine (guitarra), Jesse Carmichael (teclado e guitarra), Mickey Madden (baixo), PJ Morton (teclado) e Matt Flynn (bateria)– tampouco soaram particularmente inspirados.

Curiosamente, o próprio público, ainda que satisfeito com sucessos como "Animals" e "Payphone", não se esgoelou como seria de se esperar. O som baixo em certas partes da área do palco Mundo deve ter colaborado para isso.

O encerramento da primeira parte do show deu boa amostra de quão aguado ele foi: ninguém aplaudiu, ninguém pediu mais, ninguém entendeu se aquilo era um fim ou uma pausa.

Na volta para o bis, um momento banquinho-e-violão: Levine elogiou o país por ter dado ao mundo a bossa nova e cantou, num português aceitável, "Garota de Ipanema", "uma das melhores canções já feitas, e foi criada aqui".

Ajudado pelo coro do público, agradeceu efusivamente ao final. "Eu estava realmente nervoso de cantar essa", disse. Continuando no mesmo clima, mostrou a balada "She Will Be Loved", uma das favoritas da plateia.

Como tradicionalmente insere versões de outros artistas no repertório de seus shows (antes da bossa nova, a banda mostrara uma instrumental de "Let's Dance", de David Bowie), havia uma certa expectativa de que o Maroon 5 tocasse algo de Gaga, numa espécie de prêmio de consolação, mas não houve nem sequer menção a ela.

Talvez tenha sido melhor assim. Em vez de se arriscar tentando emular o dance eletrônico da loira, tocaram o que sabiam – a dançante "Sugar" –, deram tchau e foram embora.

Os fãs de Lady Gaga que preferiram manter seu ingresso a pegar o reembolso, contando com uma apresentação do Maroon 5 à altura de sua diva, devem ter se arrependido. Certos estavam ao pedir Anitta e Pabllo Vittar como substitutos.


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