Folha de S. Paulo


Festival de Toronto aceita bem filmes para streaming de Jolie e Mike White

Roland Neveu/Divulgação
Sareum Srey Moch e Angelina Jolie nos bastidores das gravações de 'First They Killed My Father
Sareum Srey Moch e Angelina Jolie nos bastidores das gravações de 'First They Killed My Father'

Mais escancaradamente comercial do que seus congêneres europeus, o Festival de Toronto se safou da cizânia que, em maio deste ano, dominou os debates na última edição do Festival de Cannes: a presença de filmes vindos das gigantes do streaming Netflix e Amazon.

Na mostra canadense, "First They Killed My Father", dirigido por Angelina Jolie, e "Brad's Status", de Mike White, são dois dos títulos mais representativos dessa leva. Mas por aqui, o fato de estarem abrigados na programação não desencadeou os mesmos debates que houve na França sobre se é válido ou não um festival exibir filmes que não passarão pelas salas de cinema.

Em seu novo filme, Jolie mostra mais uma de suas facetas humanitárias para contar a história verídica de uma família cambojana que foi destroçada pelo Khmer Vermelho nos anos 1970. O drama histórico entrou no catálogo da Netflix neste fim de semana, poucos dias depois de estrear no festival.

A câmera trepidante da atriz/diretora acompanha tudo pelos olhos da menina Loung Ung (Sareum Srey Moch), de 7 anos. Ela, os pais e os irmãos são forçados a deixar a casa em que vivem quando os guerrilheiros comunistas tomam o Camboja.

No interior, os integrantes da família são destituídos de qualquer posse, obrigados a labutar num campo de trabalho forçado e obrigados a se conformar com o novo ideário que o Khmer pretende instalar no país martelado de hora em hora por megafones.

Jolie não alivia a barra dos americanos. Ao som de "Sympathy for the Devil", dos Rolling Stones, o longa começa com cenas documentais que mostram os bombardeiros clandestinos que o governo Nixon fez ao país durante a Guerra do Vietnã e que insuflaram os comunistas cambojanos.

Loung, hoje uma ativista dos direitos humanos, pena nas mãos dos soldados do Khmer. Malnutrida, a menina é separada da família, obrigada a fazer treinamento militar e a ajudar na colheita que será revertida para os soldados no front.

Os cadáveres, que estão por todos os lados, lembram a todo momento cifras de um genocídio que dizimou um quarto da população do país. E Jolie segue a surrada cartilha dos filmes do gênero, incluindo a esperança de redenção ao final.

BEN STILLER

Da Amazon vem "Brad's Status", que liberta Ben Stiller dos papéis histriônicos e dá ao ator espaço para exibir alguma profundidade como um quarentão em crise.

Brad (Stiller) toca uma ONG não lá muito vibrante e se sente inferior aos bem-sucedidos ex-colegas de faculdade, e até em relação ao filho adolescente, em vias de ser aceito em Harvard.

"O mundo me odeia, e o sentimento é recíproco", reclama o mesquinho em uma de suas narrações em off. Uma viagem para Boston com o filho o forçará a reavaliar essa frustração sem fim.

Sem grandes pretensões, a comédia se mostra um ensaio interessante sobre o componente daninho das redes sociais de instigar comparações nem sempre fidedignas entre pessoas de um mesmo meio.


Endereço da página: