Folha de S. Paulo


Companhia se inspira em 'Hamlet' para debater bolhas sociais

Danilo Galvão/Divulgação
Cena do filme 'Glory', de Kristina Grozeva e Petar Valchanov
Grupo pernambucano Magiluth em cena de "Dinamarca", versão de "Hamlet"

O Grupo Magiluth sempre permeou seus trabalhos de questões sociais e pessoais. Não faria diferente ao adaptar um clássico shakespeariano.

"Dinamarca", mais recente trabalho da companhia pernambucana, que estreia nesta sexta-feira (15) em São Paulo, é uma versão de "Hamlet". Mas é também um reflexo do Brasil contemporâneo.

Trata-se da segunda parte de uma trilogia sobre o caos iniciada pela companhia em 2015 com "O Ano em que Sonhamos Perigosamente".

"Dinamarca" partiu do texto shakespeariano, trabalhado em improvisos dos atores e em colaboração com outros artistas (como Nadja Naira e Giovana Soar, da Companhia Brasileira de Teatro).

No meio do processo, diz Giordano Castro, dramaturgo e ator do espetáculo, "a gente viu que a gente não estava falando de outra coisa que não de questões sociais".

Se em "Ano" o Magiluth se baseou nas manifestações populares de 2013 –retratando a crise dentro de uma companhia de teatro que tenta ensaiar uma peça enquanto há um caos do lado de fora–, no novo espetáculo o grupo usa a premissa de "Hamlet" para discutir bolhas sociais.

Bruna Valência/Divulgação
Cena do filme 'Glory', de Kristina Grozeva e Petar Valchanov
Grupo pernambucano Magiluth em ensaio de "Dinamarca", versão de "Hamlet"

"Em 'Dinamarca', a gente fala das pessoas que estão à margem desse furacão [de turbulências sociais e políticas]. Por mais esclarecido que a gente seja, a gente vive numa bolha", afirma Giordano. "A peça é uma crítica a essa sociedade que deixa as coisas acontecerem."

MÁSCARAS

Em cena, um grupo de amigos da nobreza se reúne após uma festa de casamento. No meio das conversas frívolas regadas a champanhe, vão lembrando dos acontecimentos da noite, não tão felizes quanto pareciam de início.

Aos poucos, os amigos deixam a polidez de lado e mostram sua verdadeira face, uma certa violência no falar. "É muito doido pensar nisso: nesse mundo politizado em que a gente vive, a violência é não ser polido, é a falta de civilidade", comenta o diretor Pedro Wagner.

A dramaturgia entrelaça trechos de Shakespeare com os escritos de Giordano, criando comparações entre a "bolha" do grupo de amigos e aquela em que vive a nobreza da Dinamarca de "Hamlet": apesar do golpe poder no início da história (o rei é morto pelo irmão) e das turbulências que se sucedem, a grande preocupação do príncipe é com o fantasma do pai.

A encenação, que acontece como numa arena, com o público ao redor do espaço cênico, é acompanhada da trilha sonora ao vivo executada pelo duo Pachka.

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DINAMARCA
QUANDO sex. e sáb., às 21h30; dom., às 18h30; até 15/10
ONDE Sesc Belenzinho - sala de espetáculos 1, r. Padre Adelino, 1.000, tel. (11) 2076-9700
QUANTO R$ 6 a R$ 20
CLASSIFICAÇÃO 18 anos


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