Folha de S. Paulo


Após vencer Veneza, filme de Del Toro gera voltas no quarteirão em Toronto

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As atrizes Sally Hawkins (Elisa) e Octavia Spencer (Zelda) em cena de 'The Shape of Water
As atrizes Sally Hawkins (Elisa) e Octavia Spencer (Zelda) em cena de 'The Shape of Water'

Depois de ganhar o maior prêmio do Festival de Veneza, no último sábado (9), o cineasta mexicano Guillermo del Toro desembarcou em Toronto com seu "The Shape of Water" e provocou filas que davam voltas nos quarteirões.

Na sessão para a imprensa, que lotou duas salas de cinema, boa parte dos jornalistas se sentou no chão para assistir à fábula de amor entre uma faxineira muda e um monstro aquático. Também há um aspecto importante: o longa foi rodado em Toronto.

Mais um filme de monstro na carreira desse mexicano aficionado pelo aspecto alegórico de criaturas bizarras, "The Shape" guarda algumas semelhanças com seu famoso "O Labirinto do Fauno" (2006).

Ambos tratam da improvável relação entre uma personagem deslocada e um ser fantástico e são ambientados em tempos extremos –no caso de "Labirinto", era a Guerra Civil Espanhola; em "The Shape" é a Guerra Fria, o que dá chance para Del Toro se esbaldar na paranoia americana.

Muda, no entanto, o tom. Se o longa de 2006 era soturno, em 2017 o diretor volta mais lúdico. A trilha sonora de Alexandre Desplat, responsável pela música de longas de Wes Anderson, sublinha essa recaída mais "fofa".

Sobre sua paixão por monstros, Del Toro lembrou da primeira vez que viu "O Monstro da Lagoa Negra" (1954), maior fonte de inspiração para o visual da criatura de "The Shape of Water".

"Fiquei cheio de lágrimas com aquela beleza. E queria que a moça e o monstro terminassem juntos no fim, mas eles não terminaram", disse.

A inglesa Sally Hawkins vive Elisa, faxineira muda de um laboratório do governo americano. Ali, cientistas estudam uma criatura cheia de escamas que foi pinçada de um rio amazônico. Temem, naturalmente, que o monstro caia nas mãos dos russos. Elisa se afeiçoa ao bicho, apesar de saber que ele é perigoso, e monta um plano para tirá-lo dali.

(Como ela consegue acesso à ultravigiada sala em que o bicho é mantido e, pior, resgatá-lo com facilidade, são pontos que o roteiro não se dá ao trabalho de desenvolver.)

Com as ovações em Toronto e o prêmio em Veneza, Del Toro dificilmente será ignorado no Oscar de 2018. Do trio de amigos que ele compõe com seus conterrâneos Alfonso Cuarón e Alejandro González Iñárritu, ele é o único que ainda não tem a estatueta.

GUERRA DOS SEXOS

Quem também pode se cacifar para a corrida de 2018 é Emma Stone, atual vencedora do prêmio de melhor atriz.

Ela interpreta a tenista Billie Jean King no biográfico "Battle of Sexes", que também foi exibido em Toronto.

O filme se soma a "Borg/ McEnroe" entre os longas da mostra que remontam duelos históricos do tênis. Mas, se esse último se fixa na rivalidade entre dois sujeitos de personalidades aparentemente distintas, o filme com Stone joga luz na importância simbólica do jogo.

Dirigido por Jonathan Dayton e Valerie Faris, "Battle" trata do confronto entre Billie Jean e o fanfarrão Bobby Riggs, vivido por Steve Carell. Nos anos 1970, o duelo entre os dois ganhou contornos de guerra entre os sexos.

Para Billie Jean, a vitória nas quadras significaria o fim das discrepâncias salariais entre tenistas homens e mulheres, fundadas na ideia de que eles atraíam mais público. Fora das quadras, a personagem mantém um segredo: uma amante.


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