Folha de S. Paulo


Verão americano é o pior dos últimos tempos para indústria cinematográfica

Divulgação
Michael Fassbender em cena de 'Alien: Covenant', que decepcionou nos cinemas
Michael Fassbender em cena de 'Alien: Covenant', que decepcionou nos cinemas

O verão está indo. E já vai tarde. Pelo menos, em Hollywood. Com alguns fracassos retumbantes, a estação mais lucrativa do cinema americano (que vai do primeiro fim de semana de maio até o Labor Day, feriado do Dia do Trabalho, em 4 de setembro) fechou com US$ 3,65 bilhões de arrecadação, a pior marca dos últimos 11 anos.

Desde 2007, essa é também a primeira vez em que as cifras ficam abaixo dos US$ 4 bilhões. A maior marca pertence a 2013 (US$ 4,85 bilhões), ano de "Homem de Ferro 3", "Homem de Aço", "Meu Malvado Favorito 2" e "Universidade Monstros". Ou seja, dois filmes de heróis e duas animações, bem ao gosto dos consumidores –a estação também coincide com as férias escolares.

E, claro, a fórmula foi seguida à risca nesta temporada. As quatro maiores bilheterias foram para "Mulher-Maravilha", "Guardiões da Galáxia 2", "Homem-Aranha - De Volta ao Lar" e "Meu Malvado Favorito 3". Três heróis e uma animação.

O problema está mais abaixo. Em 2013, por exemplo, 19 filmes superaram a marca de US$ 100 milhões de arrecadação. Ano passado, o número caiu para 14. E em 2017 foram apenas 11 longas.

O próprio feriado encerrado na última segunda-feira (4) coroou esse declínio. Foi o pior Dia do Trabalho desde 2000, segundo o Box Office Mojo, que monitora esses dados. As bilheterias foram encabeçadas por "Dupla Explosiva", já em sua terceira semana em cartaz.

Em relação ao mesmo feriado do ano passado, houve queda de 22% na arrecadação, informa o Business Insider, site especializado em finanças de mercados como o do entretenimento.

Encabeçando a lista de fracassos retumbantes está "Valerian e a Cidade dos Mil Planetas", coprodução francesa dirigida por Luc Besson. A ficção de US$ 177,2 milhões de coletou minguados US$ 40,1 milhões nos EUA.

Divulgação
Dane Dehaan e Cara Delevingne em cena do filme 'Valerian e a Cidade dos Mil Planetas
Dane Dehaan e Cara Delevingne em cena do filme 'Valerian e a Cidade dos Mil Planetas'

Em empate técnico na categoria "desastre da temporada" aparece "Rei Arthur - A Lenda da Espada", de Guy Ritchie: US$ 39,2 milhões de arrecadação contra US$ 175 milhões de orçamento.

Outros filmes que decepcionaram nos cinemas americanos foram "Alien: Covenant" (US$ 74,3 milhões) e "A Múmia", com o astro Tom Cruise, que chegou apenas a US$ 80,1 milhões e foi salvo pela bilheteria internacional, principalmente na China, que ajudou o filme a alcançar US$ 407,8 milhões no mundo.

Outras franquias bem-sucedidas encontraram seus piores rendimentos, como "Carros 3", que arrecadou honestos US$ 151,1 milhões. O valor, no entanto, ficou bem aquém dos US$ 244 milhões do filme original ou dos US$ 191,5 milhões de "Carros 2".

"A Vingança de Salazar" também teve o pior desempenho da franquia "Piratas do Caribe", ainda com Johnny Depp. Fenômeno semelhante atingiu "Transformers" e a nova sequência de "Planeta dos Macacos" ("A Guerra").

Pior. Normalmente, o verão americano responde por mais de um terço da bilheteria do ano todo. Por isso, executivos de cinema (os que não perderam o emprego) estão com o sinal amarelo piscando mais que vaga-lume.

Para tentar salvar a temporada inteira, alguns dos próximos lançamentos terão que ter desempenho extraordinários. Entre as maiores esperanças do fim do ano está "Liga da Justiça", que testa novamente o poder de fogo da Mulher-Maravilha (acompanhada de uns tais de Batman e Superman). O filme chega às telas do Brasil em 16 de novembro um dia antes da première americana.

Mas o grande salvador pode ser "Star Wars". "O Último Jedi" estreia em 15 de dezembro nos EUA (14, aqui). "O Despertar da Força" foi a maior bilheteria de 2015; em 2016, o primeiro lugar foi de "Rogue One", derivado da saga.

*

CHINA EMPLACA PRODUÇÃO LOCAL NO TOP 100 MUNDIAL

Muitos filmes que fracassaram nos Estados Unidos têm encontrado na distante China seu lar, doce lar.

Aconteceu com "A Múmia" neste verão e com "A Grande Muralha", lançado em fevereiro e estrelado por Matt Damon. O filme dirigido por Zhang Yimou, rendeu apenas US$ 45,2 milhões em solo americano. Mas sua contabilidade foi salva pelos chineses, que contribuíram com US$ 170 milhões.

No entanto, para o azar de Hollywood, os chineses estão menos dependentes dos blockbusters americanos. Das cinco principais bilheterias do país, três são produções locais, incluindo o maior sucesso dos últimos tempos: "Wolf Warrior 2".

Dirigido, escrito e estrelado por Jing Wu, "Wolf Warriors 2" arrecadou US$ 848 milhões só na China e se tornou o primeiro filme de língua não inglesa a entrar no top 100 das maiores bilheteria do mundo. Ocupa nesta semana a 57ª posição.

Divulgação
Cena do filme chinês 'Wolf Warriors 2
Cena do filme chinês 'Wolf Warriors 2'

Em 2017, só cinco filmes arrecadaram mais no mundo inteiro do que "Wolf 2" arrecadou no gigante asiático. O líder da temporada continua sendo a versão com atores de "A Bela e a Fera", com US$ 1,26 bilhão.

Portanto, não se surpreenda se aparecerem cada vez mais atores chineses ou sino-americanos em blockbusters hollywoodianos. "Se não pode vencê-los, junte-se a eles" é um clichê que nunca sai de moda na entre executivos de estúdios.


Endereço da página: