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Festival de Toronto desbanca Veneza e se firma como a vitrine do Oscar

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Timothée Chalamet em cena do filme 'Call Me By Your Name', em exibição no Festival de Toronto 2017
Timothée Chalamet em cena do filme 'Call Me By Your Name', em exibição no Festival de Toronto 2017

A corrida do Oscar tem sua largada de fato em Toronto.

Enquanto as grandes mostras europeias de cinema –Cannes, Berlim e Veneza– se espaçam ao longo do calendário para não canibalizarem a disputa por filmes, o festival canadense encontrou seu nicho em produções que apelam aos gostos da Academia.

Nos últimos anos, "La La Land", "Spotlight" e "12 Anos de Escravidão" foram alguns dos títulos oscarizados que deram as caras no Canadá. A julgar pelo perfil dos títulos da edição deste ano, que começa na quinta (7), a disputa de 2018 já está rascunhada.

Histórias de superação, relatos humanistas, dramas históricos e obras calcadas em atores que se transformam assomam entre os mais de 300 títulos da programação.

Os atores Jake Gyllenhaal e Andrew Garfield protagonizam filmes com trama de superação. "Stronger" traz o primeiro no papel de um sujeito que perdeu as duas pernas no ataque terrorista à Maratona de Boston, em 2013. Já Garfield está em "Breathe", sobre um homem que fica paralisado do pescoço para baixo após contrair pólio.

Entre as interpretações, Frances McDormand pode despontar como indicada a melhor atriz por sua performance como a mãe justiceira de "Three Billboards Outside Ebbing, Missouri", e Gary Oldman por sua transformação em Winston Churchill às vésperas da Segunda Guerra no longa "Darkest Hour".

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A atriz Frances McDormand em cena do filme 'Three Billboards Outside Ebbing, Missouri
A atriz Frances McDormand em cena do filme 'Three Billboards Outside Ebbing, Missouri'

Três fatores explicam um pouco por que a mostra foi alçada a vitrine de Hollywood.

Em primeiro lugar, porque ocorre em setembro. Como a Academia premia os filmes lançados no ano anterior, os estúdios se ajustam para lançar seus candidatos ao Oscar na segundo semestre, para que o gás deles não "esfrie".

Toronto também se aproveita da questão geográfica, já que está muito mais perto de Hollywood do que Cannes, Veneza ou Berlim.

Há uma terceira característica que o torna "amigável". Ao contrário dos festivais europeus, as principais sessões do evento não são avaliadas por um júri. Só há disputa numa sessão paralela, a Platform, voltada exclusivamente a produções sem distribuição na América do Norte.

Sem ter de submeter seus longas a jurados, os estúdios hollywoodianos se sentem mais confiantes para exibi-los.

'CAIXA DE RESSONÂNCIA'

O brasileiro Vicente Amorim ("Corações Sujos") exibirá o terror "Motorrad" em Toronto, único longa 100% nacional na mostra. Para ele, a mostra canadense pode ser uma "vitrine maior" do que seus congêneres da Europa.

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Guilherme Prates em cena do filme 'Motorrad', do diretor brasileiro Vicente Amorim
Guilherme Prates em cena do filme 'Motorrad', do diretor brasileiro Vicente Amorim

"É uma caixa de ressonância maior do que Cannes ou Berlim, porque o público para esse filme está de olho em Toronto", afirma o diretor.

Seu longa, que tem ecos do thriller "Encurralado" (1971), de Spielberg, trata de um grupo de amigos motoqueiros que são perseguidos por uma estranha ameaça na estrada.

"Queria um filme que abraçasse o terror sem ter que fingir que é drama ou análise sociológica", diz Amorim. Com "Motorrad" ele espera furar a desconfiança do público brasileiro para com os filmes de gênero nacionais. "O fato de estar na seleção principal de Toronto, e não numa sessão temática, mostra que ele é aberto a todos os públicos", diz.

Também há algo de brasileiro na coprodução internacional "Zama", dirigida pela argentina Lucrecia Martel. O braço nacional desse épico, que tem Matheus Nachtergaele no elenco, cabe à produtora Bananeira Filmes, do Rio.

"É importante estar em Toronto, que é o maior mercado da América do Norte", afirma a produtora Vania Catani.

Conhecida por filmes intimistas e pelos enquadramentos rigorosos, Martel adapta o romance homônimo do conterrâneo Antonio Di Benedetto (1922-1986), sobre um funcionário da Coroa espanhola no Paraguai do século 17.

Em 2015, a diretora descreveu "Zama" à Folha como "a história de um homem preso na crença que tem de si".

Em Toronto, o Brasil também desponta como um dos financiadores de "Call Me By Your Name", do italiano Luca Guadagnino, sobre o o relacionamento de dois homens. O filme é coproduzido pela produtora paulista RT Features.

Longa mais aclamado do ano segundo o site Metacritic, que compila críticas veiculadas na imprensa, "Call Me By Your Name" já aparece em listas de prováveis postulantes ao próximo Oscar.


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