Folha de S. Paulo


Músico luta por autoria de trilhas como a da 'Pantera Cor-de-Rosa'

Theo Marques/Folhapress
O compositor parnanguara Waltel Branco, 87 anos, em um café de Curitiba, onde morava
O compositor parnanguara Waltel Branco, 87 anos, em um café de Curitiba, onde morava

Coautor de centenas de trilhas sonoras para TV e parceiro de músicos como João Gilberto e Roberto Carlos, Waltel Branco leva uma vida modesta. Aos 87 anos, o compositor foi despejado do hotel em que morava, em Curitiba.

"Tenho caixas com diplomas, homenagens, certificados. Só não recebo dinheiro", diz, com bom humor, o músico, que se mudou recentemente para a casa de uma filha, no Rio de Janeiro.

Ele vive com a verba que recebe pelos direitos autorais de cerca de 400 composições. Não detém direitos sobre o restante de obra –que, segundo suas contas, inclui participação na elaboração de ao menos 4.000 músicas. Do dinheiro dos dias de glória, sobrou pouco.

Branco participou da criação de composições famosas para os brasileiros. Seu nome está nos créditos da novela "Escrava Isaura" (da música "lerê lerê"), por exemplo.

Além disso, Branco reivindica participação na composição de outras trilhas, entre elas a música da "Pantera Cor-de-Rosa" (com a famosa introdução: "tarãm, tarãm, tarãm, tarãm, tarãm...") e a vinheta do "Jornal Nacional".

A canção da pantera está registrada sob o nome de Henry Mancini e não há informações oficiais sobre a participação de Branco.

Segundo a assessoria da Globo, a abertura do telejornal é uma música comercial intitulada "The Fuzz", criada por Frank Devol e licenciada para uso pela emissora.

A maior parte das obras do músico não foi registrada com o nome dele nem no Ecad (Escritório Central de Arrecadação e Distribuição) nem na Biblioteca Nacional.

Por isso, pesquisadores de Curitiba estão levantando o acervo do maestro para tentar regularizar a situação. Eles encontraram colaborações com artistas como Tim Maia, Novos Baianos e João Bosco.

Segundo o grupo, as composições tiveram participação direta de Branco, mas foram registradas sem o seu nome.

Na trilha da "Pantera", por exemplo, o nome aparece nos créditos da primeira versão do filme (de 1963), mas sumiu dos seguintes, no qual aparece apenas o crédito do estúdio de Mancini.

"O Waltel sempre trabalhou com músicos importantes como o João Gilberto, Hermeto Pascoal", diz o cantor Djavan em documentário produzido pela Fundação Cultural de Curitiba em 2013.

A Folha procurou os responsáveis pelos acervos de Mancini e Dorival Caymmi, mas não obteve resposta. A Globo disse que não tem conhecimento de pedidos envolvendo Waltel Branco.

'ANTENA'

As adversidades não impedem Branco de compor. Ele segue criando em ritmo acelerado e chega a dormir com o violão na cama para impulsos criativos noturnos.

Nascido no Dia do Músico (22 de novembro) em Paranaguá (PR), aprendeu a tocar com o pai, que era militar da banda do Exército.

O próprio nome era desconhecido do maestro até os 22 anos. "Em casa só me chamavam de Walter. Até que alguém viu meu documento e falou: 'Seu nome não é Walter, é Waltel'. Achei bonito e comecei a usar."

A carreira começou nessa época, com Branco, aos 20, tocando em conjuntos de jazz de Curitiba. De lá, ganhou espaço e participou do início da bossa nova, ao lado de João Gilberto, e depois dos primórdios da tropicália.

"Ele é uma antena, capta o que está acontecendo no mundo e transforma em música", diz Manoel Neto, um dos pesquisadores que acompanham o maestro.


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