Folha de S. Paulo


Painel de Portinari que pertencia a família tradicional será exposto no Rio

Ricardo Borges/Folhapress
Cena do filme 'O Jantar
"Bodas de Caná", painel realizado nos anos 1590 por Candido Portinari que irá para o MAM-Rio

Depois de passar 60 anos apreciado apenas por uma família tradicional no Rio e seus amigos, um painel de Candido Portinari (1903-1962) –realizado quase na mesma época em que o artista compôs "Guerra e Paz", que fica na sede da ONU– poderá ser contemplado pelo público em geral a partir de 14 de setembro.

"Bodas de Caná", realizado entre 1956 e 1957, foi delicadamente retirado da parede de um apartamento na lagoa Rodrigo de Freitas e levado para o MAM (Museu de Arte Moderna) do Rio.

"É uma obra de extrema importância artística nacional e para o nosso museu. Será o 17º trabalho de Portinari na coleção", afirma Carlos Alberto Gouvêa Chateaubriand, presidente do MAM-Rio.

"É um presente lindo dado ao público depois de um trabalho minucioso de restauradores", diz.

O painel, realizado em têmpera sobre madeira, foi doado em testamento ao museu pela viúva de Francisco Clementino San Tiago Dantas (1911-1964), Edméa de San Tiago Dantas, que morreu em 2010.

Amigo de Portinari, San Tiago Dantas foi jurista, escritor e ministro no governo de João Goulart –e chegou a presidir o MAM-Rio.

Ricardo Borges/Folhapress
Cena do filme 'O Jantar
Detalhe do painel "Bodas de Caná",, que será exposto no MAM-Rio

"Temos uma carta em que meu tio discute com Portinari os detalhes que gostaria de ver na obra, que é uma passagem bíblica. A pintura tem características semelhantes às de 'Guerra e Paz', o que torna o quadro mais impressionante ainda", declara Francisco de San Tiago Dantas Barbosa Quental, 70.

Na Bíblia, a passagem é aquela em que Jesus Cristo transforma a água em vinho.

Segundo ele, a família está feliz em ver a obra protegida e a ser compartilhada com mais pessoas.

A junção entre as três partes que compõem a obra foi feita por Portinari com minuciosas pinceladas de tinta.

Com o movimento de retirada do painel da parede, houve pequenas rachaduras que tiveram de ser reparadas por especialistas.

O quadro, porém, não sofreu nenhum dano com umidade ou exposição inadequada à luz. E passou por um processo de proteção, limpeza e discretos reparos.

Os custos da restauração e da retirada do painel do apartamento, que teve de contar com um guindaste, foram bancados pelo Bank of America Merrill Lynch, que não revelou o valor investido.

"O banco já investiu na recuperação de cem obras em 29 países do mundo. O objetivo é auxiliar na valorização da cultura e do patrimônio cultural local", diz Thiago Fernandes, gestor das áreas socioambiental e de governança do banco no Brasil.

"No caso do painel do Portinari, o impacto é mundial, devido à relevância que tem o artista", complementa ele.

"Bodas de Caná" ficará exposto até o dia 19 de novembro no MAM-Rio.


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