Folha de S. Paulo


Chacrinha ganha especial para centenário sem destaque a chacretes

Abelaaaardo Barbosa –se você assistiu TV nos anos 1980, provável que leia cantando e continue: "Está com tudo e não está prosa".

Ele deu seus primeiros passos profissionais no rádio, em 1942, apresentando um programa no fundo de uma chácara em Niterói (RJ). E é daí que vem Chacrinha, apelido que o fez ganhar o país, a partir de 1955, em outro veículo de comunicação, a televisão.

"Ele era um profissional muito dedicado. Tinha aquela imagem de louco, mas era seríssimo", diz Denilson Monteiro, autor de "Chacrinha - A Biografia" (ed. Leya Casa da Palavra, 2014).

De fato, Chacrinha parecia o caos. Com roupas coloridas e brilho, o apresentador de voz estranha jogava até penico na plateia e buzinava no ouvido de convidados.

"Antes de o programa começar, ele tinha que tomar um remédio contra cólica para se prevenir. E tinha tanto medo de 'acontecer alguma coisa' no palco que ele usava três cuecas", diz Monteiro.

Nascido em Surubim (PE), o apresentador, que por pouco não foi médico, faria cem anos no dia 30 de setembro. Para lembrar a data, uma das principais homenagens vem da Globo, que põe no ar, primeiro no Viva, depois na TV aberta, um especial que refaz um dos programas do velho guerreiro.

PROGRAMA ESPECIAL

A ideia, segundo o diretor artístico Rafael Dragaud, foi misturar elementos passados e atuais.

Para isso, ele reuniu artistas que tiveram passagens importantes pelo palco anos atrás –caso de Ney Matogrosso, Luiz Caldas e Fábio Jr.– a convidados que despontaram recentemente –como Anitta e Marília Mendonça.

Some-se aí uma dose de aparatos tecnológicos, como um paredão de led, impensáveis há alguns anos. Para dar vida a Chacrinha, a Globo escalou o ator Stepan Nercessian, o mesmo que, em 2014, o interpretou em "Chacrinha, o Musical".

"Não tinha como fugir dele. Ele é o Chacrinha", justifica Daniela Gleiser, diretora-geral do especial.

Antes dos intervalos, o telespectador verá depoimentos de pratas da casa que hoje tocam programas de auditório, como Pedro Bial e Faustão.

"A televisão é muito filha de Chacrinha, do que ele construiu. Tanto como instituição quanto na expectativa do público sobre o que é um programa de auditório". afirma Dragaud.

"Toda irreverência que a gente tem na televisão se deve a ele. Antes dele, era tudo muito sério, e a câmera que mandava no apresentador. Ele começou a caminhar pelo palco, coisa que o Faustão faz até hoje", diz Monteiro, o biógrafo.

Sem destaque, as famosas "chacretes" aparecem apenas como dançarinas anônimas. "O programa não tem esse aspecto museológico. O que a gente quis fazer é uma atualização", diz Dragaud.

Mas a opção desagradou. "Não fiquei zangada, mas chateada. Não só por mim, mas pelas outras também. Poderiam ter chamado só para brincar", diz Rita Cadillac, uma das chacretes mais famosas.

Segundo ela, a relação com o patrão era quase paternal. "E ele não deixava que a gente fosse só um enfeite", diz.

O que também ficou de lado foram atrações do tipo que elegiam "o homem mais feio do Brasil".

"A gente teve um cuidado com o discurso dele. Não vejo um Chacrinha engessado, mas tem certos lugares aonde a gente não foi", diz Gleiser.

MAIS HOMENAGENS

Além do especial da Globo, Chacrinha deve ganhar mais homenagens.

No próximo mês, o apresentador vai estampar uma medalha da Casa da Moeda e será homenageado no Trem do Samba, no dia 14/9, no Rio –o evento carioca leva todo ano sambistas aos vagões.

No ano que vem, o velho palhaço, que pisou na Sapucaí uma única vez, em 1987, para desfilar pelo Império Serrano (o enredo era sobre comunicação), será homenageado pela Grande Rio.

Logo depois, Chacrinha deve ganhar um filme, diz Leleco, filho dele. E as celebrações continuam em 2018, quando se completam 30 anos da sua morte –dois dias depois de ter gravado seu último programa.

A repórter viajou a convite da TV Globo

NA TV
CHACRINHA, O ETERNO GUERREIRO
Quando sábado (26), 19h,
Onde Canal Viva

Quando quarta (6), após a novela "A Força do Querer"
Onde Globo

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ALÔ, ALÔ, TERESINHAAAA
Os bordões mais conhecidos do Velho Guerreiro

> 'Eu vim pra confundir, não pra explicar'

> 'Na TV nada se cria, tudo se copia'

> 'Não sou psicanalista e nem analista. Sou vigarista'

> 'Alô Sarney, não perca de vista o pecuarista'

> 'A melhor lua pra se plantar mandioca é a lua-de-mel'

> 'Alô, Dona Maria, seu dinheiro vai dar cria'

> 'Honoris causa é a mesma coisa do que hors-concours'

> 'O mundo está em dicotomia convergente, mas vai mudar'

> 'Quem não se comunica, se trumbica'


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