Folha de S. Paulo


CRÍTICA

'Doidas e Santas' se retroalimenta das produções 'para mulheres'

Divulgação
Marcelo Faria e Maria Paula em cena do filme 'Doidas e Santas
Marcelo Faria e Maria Paula em cena do filme 'Doidas e Santas'

DOIDAS E SANTAS (regular)
DIREÇÃO Paulo Thiago
PRODUÇÃO Brasil, 2016, 12 anos
ELENCO Maria Paula, Samantha Schmütz, Nicette Bruno
Veja salas e horários de exibição

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"Doidas e Santas" tenta decifrar o milagre da mulher moderna. Mãe, esposa, bonita, bem sucedida. As imperfeições se resolvem com palavras rápidas, com livros de autoajuda. Como aqueles escritos por Beatriz (Maria Paula), a protagonista do filme.

"De Pernas Pro Ar" (2010), de Roberto Santucci, foi um marco da nova mulher no cinema brasileiro. Descobriram o empoderamento feminino, mas sem as citações da escritora Chimamanda Adichie ou da jornalista Gloria Steinem. Temos o workout na academia, o sucesso a qualquer preço, a busca dos orgasmos de meia hora. E assim rimos, porque o mundo precisa de refresco.

No extremo oposto, o documentário "Meu Corpo, Minha Vida" (2016), de Helena Solberg, lembra que nem tudo são flores. Crueldades existem no universo feminino.

Beatriz escreve best-sellers, é terapeuta de casais. No lugar de uma diva inacessível, uma Elisabeth Roudinesco dos trópicos, Beatriz é a quarentona em um casamento falido. Tem a irmã mais nova, ativista do Greenpeace; a mãe engraçada; o marido pacífico.

Complementando o entorno, estão lá o porteiro, a empregada e a visita obrigatória a uma comunidade. No local, bate ponto a sambista vivida por Samantha Schmütz –heroína de "Tô Ryca!" (2016), outra comédia recente.

"Doidas e Santas" aproveita a linha paz e amor dos textos de Martha Medeiros, adaptados ao cinema pelo diretor Paulo Thiago. O humor é distante de "Tô Ryca!", quando a preocupação era financeira e o escracho, quase total. Beatriz busca o bem-estar interior, a liberdade.

As melhores gags surgem em uma viagem a Buenos Aires. Quem sabe o intercâmbio com a Argentina seja uma nova oportunidade para as comédias do cinema brasileiro.

Curioso que Thiago tenha se aventurado no mundo cômico, algo diferente do seu maior clássico. "Águia na Cabeça"(1984) era cheio de testosterona e jogo do bicho. Uma pérola pop, com sacadas de marketing e estrelada por ninguém menos que Jece Valadão.

"Doidas e Santas" se retroalimenta da indústria de comédias ditas femininas. A própria atriz Maria Paula sai do papel de amiga em "De Pernas Pro Ar" e vira protagonista. Homens na plateia identificam-se, aqui e ali. Crianças comem pipoca enquanto as mães pregam os olhos na tela. O filme é leve e rola macio. Só não espere grandes momentos.

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