Folha de S. Paulo


Em monólogo, Paulo Betti reconta as suas memórias de juventude

Para criar "Autobiografia Autorizada", monólogo que estreou há dois anos no Rio e acaba de iniciar uma temporada paulistana, Paulo Betti contou com uma espécie de rascunho: anotações que ele mesmo fazia, desde a infância, do cotidiano da família.

"Eu sempre fui um garoto anotador", conta o ator, 64. "Como minha mãe não sabia ler nem escrever e meus irmãos eram bem pouco letrados, sentia que eu era um depositário da memória deles."

No espetáculo, que ele dirige ao lado de Rafael Ponzi, Betti fala da infância e da juventude no interior paulista.

O avô, imigrante italiano, trabalhava de meeiro para um fazendeiro negro em Vila Leão, região quilombola de Sorocaba. "Eu via a casa-grande do ponto de vista da senzala", afirma o ator.

Adelaide, sua mãe, trabalhava como doméstica. Teve 15 filhos, mas só 7 sobreviveram. Betti foi o último, temporão, dez anos mais novo que o então caçula da família.

Em cena, o ator faz uma trajetória não linear de sua história. "Eu falo direto pro público, mostrando memórias."

E leva para o palco objetos reais da família, como a faca com que sua avó o fazia matar porcos, o passaporte do avô e o atestado de internação do pai, que era esquizofrênico, na chamada Associação Protetora dos Insanos.

"Mas consigo falar dessas coisas com leveza. Uns 50% da peça são cômicos. Também procurei dar um tom poético."

Betti fala, por exemplo, do time de futebol, o São Bento, "que quando eu era menino subiu para a primeira divisão", ou lembra com comicidade como o cunhado paquerava a sua irmã enquanto o pai estava internado.

Noutros momentos, coloca o seu "menino pra fora" e brinca de pião sobre o palco.

Para a temporada paulistana, Betti incluiu novas cenas. Antes, "Autobiografia Autorizada" abarcava a vida do ator até a sua entrada na Escola de Arte Dramática da USP. Agora, também faz referência à sua trajetória em novelas e no teatro.

"O público se sentia um pouco traído", afirma ele, que traz entre as menções os bordões do personagem Téo Pereira, blogueiro gay que o ator interpretou na novela "Império" (2014-2015), da Globo.

"Assim, no final da peça faço um panorama da minha carreira, festejo uma parte essencial da minha vida."

RETORNO

Além de "Autobiografia", o ator retoma a sua carreira em um outro projeto. No filme "A Fera na Selva", que ele mesmo dirige, Betti faz uma versão cinematográfica da trama que encenou nos palcos em 1992 com Eliane Giardini, sua então mulher, e com a qual levou o Prêmio Shell de de Teatro por sua atuação.

A história, adaptada do livro de Henry James, foi filmada em Sorocaba, também cidade natal de Giardini e local onde os dois se conheceram.

Uma discussão sobre o tempo e as aflições humanas, a trama acompanha João (Betti) e Maria (Giardini) e a obsessão do primeiro para que algo de extraordinário aconteça em sua vida –como uma fera à espreita na selva.

O longa-metragem terá a sua primeira exibição no próximo dia 22, no Festival de Gramado, na serra gaúcha.

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AUTOBIOGRAFIA AUTORIZADA
QUANDO sex., às 21h30, sáb., às 21h, dom., às 18h; até 1º/10
ONDE Teatro Vivo, av. Dr. Chucri Zaidan, 2.460, tel. (11) 3279-1520
QUANTO R$ 50
CLASSIFICAÇÃO 12 anos


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