Folha de S. Paulo


Câmera lenta de fotógrafo alemão capta manifestações em SP

Michael Wesely
Manifestação a favor do impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff, realizada na avenida Paulista em abril de 2016
Manifestação a favor do impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff realizada na avenida Paulista

Em vez de manifestantes a favor do impeachment de Dilma Rousseff, apenas uma massa amorfa e amarela. Do outro lado e da mesma maneira, no lugar dos que protestaram contra a cassação da ex-presidente, apenas um borrão em tons de vermelho.

Nas imagens de Michael Wesely, os atos em torno da destituição da petista são retratados com o conceito que fez do alemão uma referência na fotografia contemporânea.

Conhecido pelos registros de arquitetura em baixíssima velocidade, nos quais deixa os obturadores de suas câmeras abertos em tempo integral, Wesely gasta meses ou anos para realizar uma fotografia.

Afasta o "instante decisivo" de Cartier-Bresson para dar lugar a uma sequência de cenas condensadas numa imagem.

Em São Paulo, os tempos de exposição foram mais modestos. Levou algumas horas para produzir as cenas de protestos ocorridos na av. Paulista e no Vale do Anhagabaú, em abril de 2016, que serão exibidas a partir de sábado (12) no Sesc Sorocaba.

O assunto principal das imagens também é um pouco diferente do que está acostumado a registrar. Ainda que ele já tenha produzido um livro apenas de retratos, os trabalhos mais famosos do alemão estão ligados à arquitetura, como o registro das transformações da praça Potsdamer, em Berlim, ou das obras de expansão do MoMA, em NY.

"O borrão das pessoas está muito ligado às energias, esperanças e desejos de uma nação", explica o alemão. "Uma vez que essas imagens mostram a necessidade de protestar, o tempo estendido exibe nossa impermanência e vulnerabilidade", divaga.

A relação com o Brasil é antiga. Wesely é casado com a paulistana Lina Kim, com quem produziu um livro sobre Brasília. Desde então, realizou diversos trabalhos no país, como o registro da montagem da exposição no Masp que resgatou os cavaletes de Lina Bo Bardi a construção da nova sede doInstituto Moreira Salles São Paulo.

Sobre o momento político atual do país, o artista é pessimista. "Quase todo ano um enorme escândalo de corrupção é revelado. Isso acontece desde 2001, quando passei a vir ao Brasil", diz. "Ainda assim não parece surgir uma geração política com novas ideias ou conceitos."

No próximo dia 22, na galeria Casa Nova, Wesely vai inaugurar uma outra exposição no país, em que exibirá um recorte de 12 obras. Ali, mostrará naturezas-mortas e um retrato de Oscar Niemeyer, todos realizados a partir da ideia de dilatação do tempo.

FRESTAS - TRIENAL DE ARTE DO SESC
QUANDO de ter. a sex., das 9h às 21h30; sáb., dom. e feriados, das 10h às 18h30; até 3/12
ONDE Sesc Sorocaba, r. Barão de Piratininga, 555, Sorocaba, tel. (15) 3332-9933
QUANTO grátis


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