Folha de S. Paulo


CRÍTICA

Paralamas já fez melhor, mas continua dando a cara a bater

SINAIS DO SIM (bom)
ARTISTA Os Paralamas do Sucesso
LANÇAMENTO Universal Music
QUANTO R$ 30 (CD)

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Escutar o novo álbum dos Paralamas causa impressão semelhante àquela que os discos dos Rolling Stones dos anos 1980 para cá provocam no ouvinte. Fica evidente que se trata de um álbum acima da média do que é lançado por aí, mas muito distante do que a banda já fez de melhor.

Falando de técnica, o trio continua tocando uma barbaridade. Mas a nova safra de canções brilha apenas aqui e ali, sem performances arrebatadoras que eles cansaram de transmitir aos fãs.

Exceto em alguns momentos, o disco soa morno. A produção de Mario Caldato Jr., brasileiro cidadão do mundo com currículo espetacular, não imprime um mínimo de nervosismo. Os Paralamas parecem bem acomodados, numa zona de conforto em que produzem som comportado.

Os versos às vezes trazem o viço das grandes letras que acompanhavam a alquimia rítmica do trio nos anos 1980 e 1990, mas o disco tem derrapadas líricas como "Contraste", faixa que começa emulando a guitarra de Carlos Santana mas depois patina sem sair do lugar.

"Teu Olhar", a investida romântica do disco, resulta simplória. Sua letra descritiva esbarra na poesia rasteira do sertanejo universitário. A faixa em inglês "Blow the Wind" não diz a que veio.

As regravações são duas: "Cuando Passe el Temblor", do grupo argentino Soda Stereo, em versão respeitosa, e "Medo do Medo", da rapper portuguesa Capicua, que está entre os bons momentos do disco.

A força paralâmica ainda bate em algumas faixas que fazem o álbum valer a pena. Há ecos de Titãs no quase funk 1970 de "Itaquaquecetuba" e no rock meio jovem guarda de "O Corredor".

"Olha a Gente Aí", de letra otimista e tom de declaração de intenções de Herbert, inclui trecho do poema "Ó Sino da Minha Aldeia", do poeta português Fernando Pessoa (1888-1935). A música exibe a intrincada e atraente conversa entre guitarra e metais que ajudou a formatar um estilo único, que marca os Paralamas desde o começo da carreira.

"Sempre Assim" fecha o disco com o som da Jamaica que sempre foi um forte combustível da banda. A faixa pode ser inserida em álbuns fenomenais como "Selvagem?" (1986) ou "Bora-Bora" (1988) sem fazer feio junto ao material desses discos.

"Sinais do Sim", mesmo se for merecedor das ressalvas listadas aqui, é um álbum com acertos. E sua principal qualidade é provar que os Paralamas seguem dando a cara para bater com músicas inéditas. Ainda uma banda a ser seguida com atenção.


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