Folha de S. Paulo


CRÍTICA

Clichê, longa sobre nazismo tem potencial de levar às lágrimas

OS MENINOS QUE ENGANAVAM NAZISTAS (regular)
(Un Sac de Billes)
DIREÇÃO Christian Duguay
ELENCO Dorian le Clech, Batyste Fleurial, Patrick Bruel
PRODUÇÃO França/Canadá/República Tcheca, 2016, 12 anos
Veja salas e horários de exibição

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Os Meninos Que Enganavam Nazistas
Joseph Joffo
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Seria preciso certa incompetência para dirigir um filme com crianças num pano de fundo histórico marcante e não conseguir com isso um sucesso de bilheteria.

"Os Meninos que Enganavam Nazistas" é baseado no livro "Un Sac de Billes" (um saco de bolinhas de gude), de Joseph Joffo, já adaptado para as telas por Jacques Doillon em 1975.

Baseado na própria experiência do autor, o livro trata de crianças judias francesas que sofrem com a separação da família por causa da ocupação nazista durante a Segunda Guerra Mundial.

Foi um período doloroso da vida francesa, marcado pelo colaboracionismo e pela tensão onipresente.

No começo, tudo parece uma brincadeira para esses meninos. Eles se escondem atrás da placa que indica o estabelecimento judaico do pai, uma barbearia, e isso permite a entrada inusitada de dois oficiais nazistas.

Aos poucos, a ocupação se torna mais forte e a tensão se espalha no ar.

Os judeus passam a ser marcados e precisam fugir para evitar um mal pior. No sul da França, encontram um temporário sossego. Mas a guerra continua.

Nem precisava, mas o diretor Christian Duguay, já habituado a clichês formais do cinema comercial europeu, abusa de truques de efeito, desfocadas estratégicas e música sentimental.

O resultado é um longa óbvio de história edificante, com enorme potencial de bilheteria (e de levar espectadores às lágrimas), mas quase nulo do ponto de vista cinematográfico.

Duguay é canadense de Québec. Iniciou a carreira em 1991 com o medíocre "Scanners 2", continuação da obra-prima de David Cronenberg. Passou logo a fazer coproduções franco-canadenses destinadas a um grande público, como "Belle e Sebastian "" A Aventura Continua" (2015), seu longa anterior.

Jacques Doillon, diretor da primeira e infinitamente superior versão cinematográfica do romance, é um filho da nouvelle vague, como Philippe Garrel e Jean Eustache.

Seu estilo é marcado pela sutileza e pela negação de qualquer artifício que possa servir de chantagem emocional com o espectador.

Na simples comparação entre os dois diretores é possível perceber a natureza deste "Os Meninos que Enganavam Nazistas": fazer uma atualização da história para um público acomodado pela pasteurização do cinema autoral.

Assista ao trailer de 'Os Meninos que Enganavam Nazistas'

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