Folha de S. Paulo


Para falar de corrupção no serviço público, série retoma Independência

O ano da série é 1822, mas bem que poderia ser 2017. Para falar de um problema atual, a corrupção e o dilema público versus privado, a Globo estreia em sua plataforma de vídeo sob demanda "Filhos da Pátria", que se passa no ano da Independência.

A trama vai ao ar no serviço de streaming da emissora nesta quinta (3). O texto de Bruno Mazzeo tem direção de Maurício Farias.

"É a história de um funcionário público português que vive no Brasil e que, com a independência, fica com medo de perder o emprego. Então alguns funcionários começam a levá-lo para o lado da corrupção. É um pequeno retrato da nossa burguesia e da elite brasileira da época", diz Farias, 56, à Folha.

Não só daquele tempo. Segundo o diretor, de forma bem humorada, o folhetim abordará características que ainda hoje fazem parte do nosso cotidiano. "A série mostra, de maneira muito direta, como é que determinados brasileiros tratam do que é público, tratam da máquina do Estado."

Mazzeo faz coro ao que diz Farias quanto à ideia de que o telespectador poderá "se enxergar" no seriado. "Meu interesse ao escrever é sempre buscar a identificação", diz o escritor, 40.

Na trama, coube ao ator Alexandre Nero, 47, dar vida a Geraldo, o tal português. Patriarca dos Bulhosas, ele é casado com Maria Teresa, papel de Fernanda Torres, 51, uma mulher que sonha pertencer a alta sociedade.

Eles são pais de Catarina (Lara Tremouroux), uma idealista que quer sua própria autonomia, e Geraldinho (Johnny Massaro), que, diferentemente da irmã, mal sabe cuidar de si mesmo.

O núcleo ainda é formado por Lucélia (Jéssica Ellen) e Domingos (Serjão Loroza), escravos da família.

"Ela sonha ser uma pessoa livre inserida na sociedade, e não à margem dela. Ele já está mais cansado e se sente velho demais para ser livre. São os personagens que têm a visão crítica e que fazem comentários tão pertinentes que, se tivéssemos ouvido lá atrás, talvez não fôssemos o que somos hoje", diz Mazzeo.

GENTE COMUM

O pano de fundo da série é a Independência do Brasil, mas não espere encontrar dom Pedro nas cenas do folhetim. Em "Filhos da Pátria" o foco é mesmo o brasileiro que nasce ali, no dia seguinte à Independência.

"Sabemos pouco acerca da nossa história e certamente o que acontece hoje em dia é reflexo do que teve início lá atrás", diz Mazzeo.

"Queríamos entender como o brasileiro se portou em mais um recomeço. O Brasil vive recomeçando: recomeçou quando foi descoberto, quando a corte chegou, com a Independência, com a República, com a Era Vargas, com a Ditadura, com as Diretas... É a sensação do 'agora vai'", completa o autor.

"Filhos da Pátria" é a segunda produção ambientada no início do século 19.

A primeira é "Novo Mundo", folhetim da faixa das 18h que começou em março e está na sua reta final –sua sucessora, "Tempo de Amar", aliás, também será uma produção de época com referências ao país europeu.

NA TV
Filhos da Pátria
Quando Nesta quinta (3)
Onde Globo Play

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'TELECURSO' GLOBO
Outras novelas que contam história

'Novo Mundo' (2017)
A novela de Thereza Falcão e Alessandro Marson se passa no Brasil pré-Independência e tem d. Pedro 1º e Leopoldina entre os protagonistas

'Os Dias Eram Assim' (2017)
O período da ditadura militar no Brasil é pano de fundo para a superssérie de Ângela Chaves e Alessandra Poggi

'Liberdade, Liberdade (2016)
A novela de Mário Teixeira, que começa com a morte de Tiradentes, retrata o período após a Inconfidência Mineira (1789)

'A Casa das Sete Mulheres' (2003)
A série de Maria Adelaide Amaral e Walther Negrão mostrava o papel das mulheres durante a Revolução Farroupilha, em 1835

'A Muralha' (2000)
Também de Maria Adelaide Amaral, a minissérie que explorou a saga dos bandeirantes no interior do Brasil foi exibida em comemoração dos 500 anos do Descobrimento do país

'Agosto' (1993)
Adaptada do romance de Rubem Fonseca, a minissérie de Jorge Furtado e Giba Assis Brasil tinha como cenário o Rio de Janeiro de 1954, em plena crise da era Vargas


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