Folha de S. Paulo


Sam Shepard é como beber um uísque no deserto, diz Mário Bortolotto

A obra de Sam Shepard é feita de uma poesia seca, como se tomássemos um uísque no deserto, opina o diretor e dramaturgo Mário Bortolotto, que encenou duas peças do americano.

Ator e dramaturgo, Shepard morreu no último dia 27, aos 73, em em decorrência de uma esclerose lateral amiotrófica.

Veja a repercussão:

"Eu fiz duas montagens dele, 'Criança Enterrada' e o 'Oeste Verdadeiro'. Eu sou fissurado na obra dele há muito tempo, eu leio desde que o primeiro saiu no Brasil pela LPM, o 'Crônicas de Motel'. E hoje tenho todos os livros. A obra dele tem sempre essa questão da família, do pai e essa poesia árida, seca. Como se estivesse tomando um uísque no deserto. As pessoas esquecem que é poético. O que eu sempre gostei dele foi isso, essa poesia que não se mostra rapidamente, você precisa mergulhar nela para entender, porque ela é muito seca. Eu gostava muito dele como ator também, desde que eu vi 'Os Eleitos'. E depois os outros filmes que ele fez, 'Loucos de Amor'. Acho que ele é inclusive daqueles atores que envelhecem e vão ficando melhores."

MÁRIO BORTOLOTTO, dramaturgo e diretor

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"Eu sempre tive uma identificação muito forte com a obra dele. Eu sempre achei o lugar que ele retrata, o meio-oeste americano, muito parecido com o lugar de onde eu vim, no norte do Paraná, essa coisa das relações, uma certa atitude machista das pessoas. Mas eu só consegui fazer um dos textos dele, que é o "Mente Mentir" (com Malvino Salvador e Zécarlos Machado), que eu montei em 2010. Eu sou absolutamente fascinado pela obra dele. Durante o tempo que eu fui professor de teatro, tanto na CAL (Casa das Artes de Laranjeiras) quanto na escola de Londrina, eu sempre trabalhei com textos dele como exercício para os atores. Os personagens dele são muito fascinantes. E ele como ator é foda, 'Os Eleitos' é lindo de morrer. Ele faz uma aparição super pequena naquele filme com a Meryl Streep, 'Álbum de Família', e é tão lindo aquilo."

PAULO DE MORAES, diretor

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"A morte de Sam Shepard entristece a todos que têm algo a ver com o teatro e com o cinema. A mim particularmente, já que por causa dele eu conheci muita gente boa: deu-me a chance de trabalhar com atores, diretores, figurinistas, cenógrafos e iluminadores maravilhosos. Ele fez muito pela dramaturgia universal, merece lugar destacado no panteão dos grandes dramaturgos de todos os tempos"

MARCOS RENAUX, ator e tradutor. Traduziu peças de Shepard como "Oeste Verdadeiro"

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O ator Don Cheadle publicou em seu Twitter: "Literalmente esbarrei em Sam Shepard há muitos anos, quando nós dois fomos ver "Pillow Man" na Broadway. Tivemos uma grande conversa/caminhada #heroi".

Don Cheadle

Ava DuVernay, que trabalhou com Shepard em "Cinzas do Paraíso" (1978), tuitou uma imagem de ambos nos bastidores do filme: "Sempre que surgia na tela, sabíamos que estávamos em boas mãos".

Ava DuVernay

A conta do prêmio Tony de teatro, ao qual Separd foi indicado duas vezes, também prestou homenagem:

Tony

"Um herói do teatro. Um herói da escrita. Um herói da interpretação. Meu herói", disse Nikolaj Coster-Waldau, o Jaime Lannister de "Game of Thrones"

Nikolaj Coster-Waldau

Antonio Bandeiras lembrou da morte de Shepard e da francesa Jeanne Moreau. "Obrigado por nos iluminar a 24 frames por segundo", escreveu.

Bandeiras


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