Folha de S. Paulo


Morre Sam Shepard, ator e dramaturgo norte-americano

O ator e dramaturgo americano Sam Shepard teve sua morte anunciada nesta segunda-feira (31), em decorrência de uma esclerose lateral amiotrófica, doença do sistema nervoso que enfraquece os músculos e afeta as funções físicas.

Shepard morreu no último dia 27, aos 73 anos, mas a família só anunciou sua morte quatro dias depois. Ele deixa três filhos, Jesse, Hannah e Samuel –os dois últimos, frutos de um relacionamento com a atriz Jessica Lange.

Nascido no Estado de Illinois, no Meio-Oeste americano, o dramaturgo era considerado um dos autores mais originais de sua geração e e ficou conhecido por capturar o lado sombrio das famílias de seu país em peças como "Buried Child" (criança enterrada), sobre um rapaz que retorna à casa dos avós e descobre segredos.

Por esse texto, Shepard foi vencedor do Pulitzer, em 1979 —ele também foi indicado ao prêmio pelos trabalhos "True West" (Oeste Verdadeiro) e "Fool for Love".

Pelos textos de "Buried Child" (Criança Enterrada) e "True West", Shepard foi indicado ao prêmio Tony.

No Brasil, Hector Babenco dirigiu em 1988 uma versão de "Louco de Amor" com Xuxa Lopes no elenco. Oito anos depois, Marco Ricca fez "Oeste" (versão de "True West"). Mário Bortolotto assinou duas montagens de peças de Shepard: "Criança Enterrada" e "Oeste Verdadeiro". E Paulo de Moraes dirigiu "Mente Mentira" em 2010 com Zecarlos Machado e Malvino Salvador no elenco.

NO TEATRO

O interesse por cavoucar o espírito americano decorre da própria biografia de Sam Shepard, nascido em 1943, filho de uma professora e de um fazendeiro que lutou na Segunda Guerra. Como o pai era militar, o dramaturgo passou boa parte da infância e da adolescência mudando de cidade.

Em 1962, depois de ter concluído o ensino médio, Shepard se uniu a uma trupe itinerante de teatro que passava pela cidade em que ele morava na época, na Califórnia, e passou dois anos com ela até se estabelecer em Nova York.

Foi na metrópole americana que ele começou a escrever seus primeiros textos e atuar junto a um grupo alternativo de teatro. No final dos anos 1960, passou a tocar bateria para uma banda de rock chamada Holy Modal Rounders e se mudou para Londres em 1971.

Nesse mesmo ano, ele escreveu "Cowboy Mouth", com a então namorada Patti Smith, e interpretou um dos papéis na primeira montagem da peça.

De volta aos Estados Unidos, em 1974, Shepard se estabeleceu em San Francisco e, junto ao Magic Theater, ganhou maior reconhecimento como autor de peças teatrais.

NO CINEMA

Ainda que já tivesse colaborado em vários roteiros, Shepard foi descoberto por Hollywood já aos 40, interpretando um dos astronautas de "Os Eleitos -Onde o Futuro Começa" (1983), dirigido por Philip Kaufman. O longa lhe valeu uma indicação ao Oscar de ator coadjuvante.

Também participou de títulos como "O Homem da Máfia", "Falcão Negro em Perigo", "A Senha" e "Amor Bandido".

Paralelamente à carreira como ator de cinema, que lhe rendeu mais de 50 participações, ele continuou escrevendo textos tanto para os palcos quanto para as telas. Entre os roteiros no qual colaborou estão o de "Zabriskie Point", dirigido por Michelangelo Antonioni, e o de "Paris, Texas", de Wim Wenders.

Por sua performance no telefilme "Dash and Lilly", no qual interpretou o escritor Dashiell Hammett, ele foi nomeado ao Emmy.

Seu trabalho mais recente foi na série da Netflix, "Bloodline", como Robert Rayburn. Seu último filme foi "Never Here", um thriller ainda não lançado, apresentado no festival de cinema de Los Angeles.

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peças

CRIANÇA ENTERRADA
Shepard venceu o Pulitzer por esta peça de 1978, provavelmente a mais conhecida do autor. O drama retrata uma família do meio-oeste americano repleta de segredos. No Brasil, Francisco Medeiros e Mário Bortolotto já dirigiram montagens do texto.

OESTE VERDADEIRO
A relação de aversão e inveja entre dois irmãos (um bem-sucedido, outro um "outsider") é o tema desta peça de 1980, que foi finalista do Pulitzer. Bortolotto e Marco Ricca já encenaram o texto no Brasil.

A PARTICLE OF DREAD
Último espetáculo de Shepard, estreou em 2014 nos Estados Unidos com Stephen Rea no elenco. A peça explora a natureza da mitologia e da tragédia, mas com um quê de medicina forense.

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livros

CRÔNICAS DE MOTEL
A coletânea (1982) mescla poesia, contos autobiográficos e outros textos. Traz lembranças da infância do autor, a juventude no Oeste americano, os bicos de caubói e garçom e os reflexos do sucesso.

ROLLING THUNDER LOGBOOK
O livro de 1977 é uma mistura de diário, roteiro e rascunho sobre a turnê "Rolling Thunder", de Bob Dylan, em 1975. Shepard fala de Dylan e de artistas que o rodeavam, como Joan Baez e Allen Ginsberg, de forma quase impressionista

THE ONE INSIDE
Lançado neste ano, o romance segue um homem num cenário desértico (como boa parte da obra de Shepard) que vai sendo engolido pela memória. O prefácio é de Patti Smith.

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atuações

OS ELEITOS - ONDE O FUTURO COMEÇA
No longa de Philip Kaufman (1983), adaptação da obra de Tom Wolfe, Shepard é o ás da aviação Chuck Yeager. Pelo papel, foi indicado ao Oscar.

MINHA TERRA, MINHA VIDA
Dirigido por Richard Pearce, Shepard contracena com Jessica Lange, então sua mulher. Eles interpretam um casal de fazendeiros que luta para se manter.

LOUCO DE AMOR
Shepard atua na adaptação de 1985 da peça de sua autoria, sobre a relação conturbada entre dois ex-namorados que se reencontram em um motel no deserto.

ÁLBUM DE FAMÍLIA
Shepard faz uma pequena —mas marcante— participação no longa de John Wells (2013), que tem Meryl Streep e Julia Roberts como uma família que se reencontra após a morte do patriarca.

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filmes

PARIS, TEXAS
Ao lado de L.M. Kit Carson, Shepard assina o roteiro do filme (1984), um dos mais conhecidos do diretor Wim Wenders. Trata da relação conturbada de um homem (que desaparece e vaga pelo deserto) com a família.

ZABRISKIE POINT
No filme de Michelangelo Antonioni (1970), Shepard assina o roteiro ao lado do próprio Antonioni e de outros três nomes. O clássico filme é um retrato dos anos 1960 nos Estados Unidos.


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