Folha de S. Paulo


Para Lázaro Ramos e Lilia Schwarcz, racismo é um problema de todos

Mesa com Lázaro Ramos e Lilia Schwarcz

O ator e escritor Lázaro Ramos e a historiadora Lilia Moritz Schwarcz disseram neste sábado (29), na Casa Folha, que o racismo precisa ser encarado como um problema de todos no Brasil, não só dos negros, seu principal alvo.

A mesa, mediada pelo jornalista Maurício Meireles, lotou o espaço da rua do Comércio, e muitas pessoas assistiram do lado de fora, onde se formou uma longa fila. A primeira pessoa chegou às 6h –o debate começava às 10h. Os dois convidados foram aplaudidos efusivamente em vários momentos do encontro.

"Temos de sair deste lugar do Lima [Barreto, homenageado desta Flip], de falar de preconceito a partir do outro, do negro", afirmou Lázaro, que lançou há pouco "Na Minha Pele" (Objetiva), em que costura memórias pessoais e reflexões em torno do racismo. "Precisamos pensar em quando fomos cúmplices, em quando causamos dor. O meu foco é onde a gente se aproxima, o que cada um pode fazer."

"Lima, descendente de escravizadas pelos dois lados, dizia que a verdadeira abolição não seria feita pela lei [Áurea, 1888], mas pela educação e pelo afeto", lembrou Lilia, autora da recente biografia "Lima Barreto - Triste Visionário" (Companhia das Letras).

E emendou: "Nos cem anos da lei, uma pesquisa mostrou que os brasileiros se sentiam numa ilha de democracia racial, cercada por racistas por todos os lados. Se o tema não virar um problema nacional, não vai se resolver. O pior espaço é o do silêncio, do não dito. Quando a gente fala, pode se entender".

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Para Lázaro, não deve haver cartilha para abordar o racismo. "Buscamos uma fórmula exata de militância, somos juiz de genitália e da pele alheia. Que negócio esquisito! Não posso dar uma resposta [sobre a melhor forma de tratar o tema]. Estou tentando através da arte, por meio do livro que escrevi. O racional não dá conta sozinho [de peitar o racismo]. Vamos precisar de outras armas, da poesia, do cinema."

Lilia explicou que a militância de Lima era de natureza distinta da que se vê hoje. "Ele fazia uma literatura impactada pela dor, afetada por ela, em um momento de negação do preconceito e do racismo. Diziam que ele era contra a República, mas ele só se opunha à não inclusão do novo regime. Naquela época, era ainda mais difícil ser militante do que hoje."

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