Folha de S. Paulo


CRÔNICA

Em igreja da Flip, mesas abordam sexo homoafetivo e religiões afro

A Igreja Matriz de Paraty virou palco de um desfile de heresias durante a Flip. Nesta que é uma das edições mais ativistas da festa literária nos últimos anos, o altar da igreja abrigou mesas que abordavam sexo homoafetivo, umbanda, macumba, a possível não virgindade da mãe de Jesus e a aversão do escritor Lima Barreto à religião.

Na mesa que reuniu dois tradutores de grego, o brasileiro Guilherme Gontijo Flores, professor de Língua e Literatura Latina na Universidade Federal do Paraná, entoou poemas da grega Safo de Lesbos, conhecida por sua temática homoerótica.

Bruno Santos/Folhapress
PARATY,RJ, BRASIL, 25-07-2017: Ha um dia do Inicio da 15ª FLIP (Festa Literária Internacional de Paraty), Paraty se prepara para o evento que o maior da cidade. Na foto, vista interna do Auditorio da Matriz sendo finalizado para abertura. (Foto: Bruno Santos/ Folhapress) *** FSP-ILUSTRADA *** EXCLUSIVO FOLHA***
Igreja sede da 15a edição da Flip

Sentado no altar, seu colega português Frederico Lourenço, que está vertendo a Bíblia do grego para o português, afirmou que a maioria das pessoas reza o Pai Nosso errado. "As pessoas ficaram muito incomodadas pelo fato de o pai nosso que elas rezam na missa ser diferente do pai nosso em grego na tradução crítica ", disse.

Aproveitou para apontar que, nos evangelhos segundo Marcos e segundo João, não se fala que a mãe de Jesus era virgem. E criticou a interpretação católica da Bíblia. "Tradução teológica é uma interpretação, as pessoas confundem interpretação católica da Bíblia com a Bíblia".

Na sexta, foi a vez do ecumenismo tomar conta da igreja. Na mesa que reuniu o historiador Luiz Antonio Simas e a crítica literária Beatriz Resende, houve discussão sobre a pomba gira que teria baixado na mulher do então presidente Emílio Garrastazu Médici enquanto ela assistia pela TV à apresentação de uma entidade no programa do Chacrinha.

Beatriz Rezende relatou que Lima Barreto, o homenageado desta Flip, tinha horror à religião. "Como anarquista, ele achava que a religião desviava a atenção do povo de seus problemas e das coisas prazerosas."

Por fim, a escritora espanhola Pilar del Rio, viúva do escritor e ativista ateu José Saramago, fez piada na igreja. "Estar em Paraty 15 anos depois é um milagre ateu", afirmou, referindo-se à primeira vez em que esteve na Flip.


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