Folha de S. Paulo


CRÔNICA

'Festa elitizada', Flip abraça a economia solidária da Parati com i

O espaço que antes abrigava a Tenda dos Autores é um lote grande de terra batida ao lado do rio Perequê-Açu –na "outra" margem do rio.

Antes de a programação principal migrar para a Matriz, novidade desta edição, todos eram obrigados a cruzar a ponte ao fim (ou no começo) da rua do Comércio, que fica atrás da igreja.

Sem a tenda, quem iria até lá? Talvez quem quisesse comer os pastéis de 30 cm à venda na descida da ponte ou quem, do alto dela, quisesse ter a bela vista do rio se abrindo para o mar.

Mas, como diz a artesã Clara Cid, "calhou de o homenageado deste ano ser Lima Barreto, que é totalmente povão". E a Flip, "uma festa totalmente elitizada", abraçou a economia solidária das comunidades de Parati, com "i".

É a Parati, com "i", que oficialmente pertencem localidades como Patrimônio, Forquilha ou Quilombo, de onde vieram artesãos reunidos no descampado pelo Fórum de Economia Solidária local, do qual Cid faz parte.

Com "y", o nome designa o centro histórico, explica ela, animada, em sua barraca de roupas na feira "Parati ocupa Paraty".

No lugar da tendona, tendinhas, quase todas tocadas por mulheres, expõem brinquedos educativos, cestaria indígena, peças de cerâmica. Coletivos, como o Articula Preta, organizam rodas de conversa.

Ana Maria Borges de Olinda era educadora em Ubatuba. Desde janeiro, tenta a sorte como artesã aqui e está recolhendo assinaturas por um espaço fixo para que os artistas de rua possam vender sua produção.

Nem todos os vendedores sem licença, que "brincam de gato e rato com a guarda municipal" do lado de lá aceitaram vir, afirma. "Eles dizem que são alternativos, mas isso não existe mais. Estamos todos no sistema."

Sob o céu azul, passeadores tropicam cá e lá. Incluídos, excluídos, solidários –o povão de Lima Barreto enche as duas margens de Paraty/i.


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