Folha de S. Paulo


CRÍTICA

Filme sobre gigolô traz novidades com latinos rindo de si mesmos

COMO SE TORNAR UM CONQUISTADOR (bom)
(How to Be a Latin Lover)
DIREÇÃO Ken Marino
ELENCO Eugenio Derbez, Salma Hayek, Rob Lowe
PRODUÇÃO EUA, 2016, 12 anos
Veja salas e horários de exibição

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"O que você quer ser quando crescer?", uma menina de oito ou nove anos pergunta para o irmão, pré-adolescente. Ele aponta para a foto de um homem de smoking com cara de milionário, relógio patacão num braço e uma loira quatro décadas mais jovem no outro. A irmã argumenta que eles são mexicanos, e o homem da foto é branco. Ao que o moleque responde: "Quero ser ela, não ele".

A premissa de "Como se Tornar um Conquistador", comédia hollywoodiana que estreia nesta quinta (27), é ousada. Um menino que viu o pai trabalhar até a morte (uma passagem de um mau gosto hilário) tem como propósito virar gigolô e ser sustentado por uma gringa mais velha, para jamais labutar.

É claro que o menino se torna um garçom musculoso de resort em Cancun que logo fará uma vítima, com a conta bancária tão entupida quanto as artérias coronarianas. E que, duas décadas depois, o gigolô mal-acostumado vai ser abandonado pela velhota e ter de recorrer à irmã.

Você já viu esse filme. Mas Hollywood ainda não.

A produção é protagonizada por Eugenio Derbez, um nomaço no México que não ainda não aportou no imaginário coletivo mundial, e Salma Hayek, que tira a comédia de letra.

Derbez é solto e tem aquela qualidade de aparentar ser um cara família mesmo quando está afofando a virilha –coisa que faz muito.

As piadas são sujas, feias e nem sempre engraçadas. Mas sem apelar para idiotizar ou "carmenmirandizar" as culturas latinas.

Há sim uma dança de salsa entre os irmãos bêbados e um sobrinho gênio que (pasme!) aprende com o tio vagabundo como ser mais soltinho. Mas há uma novidade em meio a tanto clichê.

O lançamento, que vai bem, obrigado, na bilheteria americana, entra na linha de filmes de diretores como Keenen Ivory Wayans ("As Branquelas"), em que a tensão racial vira riso porque é feita pelo próprio grupo discriminado –negros, no caso de Wayans, e latinos, neste filme, por mais que o diretor Ken Marino seja meio italiano.

A mudança de ponto de vista é uma evolução, que fica ainda mais palpável quando se compara o filme com outras produções hollywoodianas focadas no nicho hispânico. Voltemos para 2004, ano de lançamento do intragável "Spanglish", em que Adam Sandler interpreta o patrão de uma empregada doméstica mexicana (Paz Vega) que não consegue aprender a segunda língua. Neste filme, os bilíngues espertos são os mexicanos, que riem em espanhol de gringos.

Assista ao trailer de 'Como se Tornar um Conquistador'

Assista ao trailer de 'Como se Tornar um Conquistador'


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