Folha de S. Paulo


CRÍTICA

Novos 'Trapalhões' mantêm zoeira e incorreção que atrai antigos fãs

Os Trapalhões (muito bom)
QUANDO: Canal Viva, Seg a Sex. às 20h30; Rede Globo, em Setembro

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Na terça-feira da semana passada (11), Renato Aragão disse a jornalistas que estava preocupado com uma possível rejeição de seu novo programa pelo antigo público de "Os Trapalhões". Após assistir aos dois primeiros episódios (de um total de nove) no canal Viva, minha opinião é a de que ele não tem o que temer em relação aos antigos fãs.

Diferentemente de outras tentativas sem Mussum e Zacarias, nas quais Renato Aragão contracenava, por exemplo, com crianças, o novo "Os Trapalhões" segue a linha anárquica, escrachada, bocó, circense, talvez ingênua e ainda definitivamente machista dos anos 1970 e 1980.

Em primeiro lugar, temos Didi e Dedé em pessoa. A eles, soma-se um novo quarteto, Didico, Dedeco, Mussa e Zaca, decalcados dos originais. Os dois primeiros, talvez pela presença dos velhos mestres, ainda parecem procurar um espaço.

Os dois últimos, não. Brilham com todos os trejeitos dos bons e velhos Mussum e Zacarias. É possível se sentir criança de novo assistindo hoje a Mussa ("Hoje eu quero meu penteadis igual da Giovanna Antonellis da novelis. Você faz escovis?") e Zaca ("Hi-hi-hi").

Em segundo lugar, há muito se fala que vários clássicos esquetes do grupo jamais seriam exibidos/aceitos nos tempos em que existe preocupação pelo politicamente correto. Piadas com negros (Mussum), gays (Zacarias), anões (Ananias), corpos femininos estereotipados e alcoolismo, por exemplo, constituíam boa parte do arsenal dos antigos Trapalhões.

Pois, apesar de terem declarado atenção com o assunto ("O tempo andou e nós andamos junto", disse o diretor Fred Mayrink), não foi isso o que se viu nos dois primeiros episódios.

Com exceção do álcool, há piadas com negros, mulheres de minissaia, anões e, principalmente, com gays. Talvez sejam mais leves do que as de antes -e não há denúncia sendo feita aqui, pois até agora o politicamente correto não virou lei e nem mesmo é aceito por todos.

Aliás, o fato de haver alguma incorreção política no novo "Os Trapalhões" é uma das razões (além do ótimo texto) que podem atrair os antigos fãs. Outros devem se sentir ofendidos.

E as crianças, público para o qual o programa, no final das contas, é feito? Vão achar graça? Vão entender? Vão aceitar os Trapalhões?

Divulgação
Mussum, Zacarias, Dedé Santana e Aragão em cena de
Mussum, Zacarias, Dedé Santana e Aragão em cena de "Os Trapalhões" no início dos anos 80.

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