Folha de S. Paulo


Análise

Hollywood desprezou Martin Landau, ganhador do Oscar por 'Ed Wood'

O ator Martin Landau, que morreu de câncer neste sábado (15), aos 89 anos, é um dos raros casos hollywoodianos que depõem contra o ditado "quem não sabe fazer ensina". Landau sabia interpretar como poucos no cinema americano, mas também ensinava.

Começou a carreira como cartunista e depois passou a se dedicar ao teatro. Foi aceito em Nova York pela prestigiada Actor's Studio, organização de atores que serve para refinamento da arte dramática, em 1955 –Steve McQueen entrou naquele ano. Conheceu o melhor amigo, James Dean, com quem percorreu os estúdios em busca de emprego, e namorou Marilyn Monroe.

Landau nunca foi famoso como os amigos. As feições rudes e a compleição alta e magra até se confundiam com seus personagens, como o espião de sexualidade ambígua de "Intriga Internacional" (1959), de Alfred Hitchcock.

Landau não era charmoso como Cary Grant ou bonito como James Dean, o que fez Hollywood subestimar o homem que chegou a comandar o Actor's Studio na costa oeste dos EUA, quando formou alunos como Jack Nicholson.

Mas conseguiu mostrar sua versatilidade em três anos na série de TV "Missão: Impossível" (1966), interpretando um mestre dos disfarces.

Costumava dizer que nunca "precisou ser garçom" para sobreviver, mas teve uma carreira de vácuos, o principal entre as décadas de 1970 e 80. Foi resgatado por Francis Ford Coppola, em 1988, em "Tucker - Um Homem e Seu Sonho", como um implacável homem de negócios. O papel rendeu a ele a primeira de suas três indicações ao Oscar de melhor ator coadjuvante.

Sua aura misteriosa e sombria foi perfeita em "Crimes e Pecados" (1989), de Woody Allen. No papel do marido que se sente culpado pelo assassinato da amante, Landau levou a segunda indicação ao Oscar.

A estatueta só veio em "Ed Wood" (1994). O diretor Tim Burton era fã dos filmes de horror que o ator fez nos anos 1970 e o escalou para viver o eterno Drácula Béla Lugosi na fase final, velho, viciado em morfina e sem um tostão no bolso. Mesmo debaixo de próteses, Landau conseguiu passar o conflito entre ego e limitação artística do húngaro.

Landau voltou a ser esquecido por Hollywood. Tirando participações em programas como "Os Simpsons" e "Entourage", não voltou a participar de grandes projetos.

Morava com a filha e o neto, em Los Angeles, e lançou "Memórias Secretas", quando refletiu sobre o passar dos anos em entrevista à Folha, em 2016. "Atuar é diversão e acho incrível que consigo fazer meu trabalho na minha idade. Perdi muitos amigos. E os que estão vivos não lembram o que comeram no almoço. Acho que tive sorte."


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