Folha de S. Paulo


Encarnando boxeadora, Berna Reale cria manifesto feminista rosa-choque

Rosa nunca foi tão choque. Essa é a cor das luvas de boxe e de uma capa de toureiro que Berna Reale usa em novas fotografias e vídeos, obras que pensou como manifestos feministas ao mesmo tempo pop e contundentes.

Não é a primeira vez que o tom associado a meninas e mulheres, um "símbolo que remete à fragilidade", nas palavras da artista, aparece em seu trabalho. Há três anos, colegiais de saia cor-de-rosa e aparelhos na boca que as faziam parecer bonecas infláveis marchavam pelas ruas de Belém num de seus filmes.

Mas tudo ficou mais brutal depois que a artista, que atua também como perita criminal na capital do Pará, sentiu na pele a violência. Ela conta que foi agredida por um superior -homem- no trabalho e desde então vem pensando em como traduzir o trauma numa série de novas performances.

Divulgação
Fotografia da série 'Luta', trabalho de Berna Reale agora em mostra no Centro Cultural Banco do Brasil
Fotografia da série 'Luta', trabalho de Berna Reale agora em mostra no Centro Cultural Banco do Brasil

Reale, uma das representantes do país na Bienal de Veneza de dois anos atrás, famosa por ações viscerais como quando foi carregada nua feito um pedaço de carne pelas ruas de sua cidade ou quando serviu sobre o corpo um banquete de vísceras a uma revoada de urubus, agora baixa o tom numa série de fotografias e filmes mais controlados, sem o calor das ruas.

Num dos vídeos da mostra que acaba de abrir no Centro Cultural Banco do Brasil, ela aparece enxugando blocos de gelo empilhados em montes ao seu redor. Veste uma roupa toda transparente e um abafador de som cor-de-rosa.

"É uma alusão ao trabalho em vão, incansável, inútil", diz a artista. "E essa não é uma mulher, é uma coisa meio andrógina, porque não é só a mulher, é o gênero feminino, de todos que assumem a feminilidade, que é vítima."

Noutro filme, ela agita uma capa rosa à espera de um touro ausente enquanto homens num curtume salgam a pele bruta dos bichos. "Eles preparam o couro enquanto ela toureia no vazio", diz Reale. "A questão é quem abate e quem é o abatido."

Mais agressiva, a artista tenta não ser a vítima nas fotografias que mostra junto aos vídeos no subsolo do CCBB. Reale ali veste um cinto de castidade e tem os punhos em riste, envoltos em luvas de pelúcia rosa-choque.

"Tem sempre essa cor", diz a artista. "Gosto de ser simples, atingir rápido o espectador, para que não fique uma coisa intelectualizada."

BERNA REALE
QUANDO de qua. a seg., das 9h às 21h; até 28/8
ONDE CCBB, r. Álvares Penteado, 112, tel. (11) 3113-3651
QUANTO grátis


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