Folha de S. Paulo


Spotify é acusado de criar artistas falsos para incluir faixas em playlists

O Spotify tem sido acusado de pagar produtores para criar faixas sob o nome de artistas falsos para integrarem suas populares playlists.

Segundo a teoria, a prática possibilitaria à plataforma expandir sua oferta musical pagando menos royalties ou aumentando seu faturamento, já que o próprio Spotify também poderia ser o detentor dos direitos fonográficos.

A suspeita, trazida à tona pelo site Music Business Worldwide no ano passado e recuperada pela "Vulture" nesta semana, parte do fato de que alguns artistas têm suas poucas faixas muito reproduzidas na plataforma, mas não possuem registros fora dela, como sites oficiais, perfis públicos em redes sociais ou suas obras disponíveis em outros serviços, como iTunes, SoundCloud ou YouTube.

Procurada pela Folha, a empresa negou a prática. "O Spotify não tem e nunca criou artistas 'falsos' para incluí-los em playlists", afirmou em um comunicado.

"Em alguns casos, artistas podem ter músicas no Spotify sob mais de um nome, uma vez que eles criam músicas dentro de um gênero ou estilo diferente da sua principal 'marca' como criador."

À "Billboard" americana, a empresa afirma pagar "royalties para todas as faixas e para tudo que reproduz". "Não possuímos direitos autorais, não somos uma gravadora, todas as nossas músicas são licenciadas de detentores dos direitos e nós os pagamos –não pagamos a nós mesmos."

O Spotify assegura que já pagou mais de US$ 5 bilhões a artistas e detentores dos direitos das músicas desde o seu lançamento, em 2006.

Diminuir esses custos poderia ajudar a empresa a recuperar o prejuízo operacional de 349 milhões de euros que teve em 2016, apesar de a receita ter crescido 50%, chegando a 2,93 bilhões de euros –há um embate no modelo do Spotify: quanto mais músicas oferta, e com elas lucra, mais precisa pagar em direitos.

Após a negativa, o Music Business Worldwide elencou 50 artistas supostamente falsos e desafiou que os leitores comprovassem o contrário.

O caso acendeu um debate sobre produção artística a partir de inteligência artificial.

O site especializado NPR Music levantou a hipótese de que a prática tivesse a ver com pesquisas da empresa a partir de dados coletados por sua recém-adquirida The Echo Nest, que rastreia o consumo musical na plataforma.

Desta forma, a empresa não dependeria de artistas "externos" para testar o comportamento do usuário a certos ritmos e comprovar o poder de suas playlists.

No passado, por exemplo, o Spotify chegou a encomendar uma faixa de Tiësto para ser incluída em uma playlist com ritmos que acompanham exercícios de corrida.

As listas são hoje a menina dos olhos da empresa, capazes de alavancar a carreira de artistas. No Brasil, um caso ilustrativo é o do DJ Alok, o primeiro brasileiro a figurar na playlist mais ouvida da plataforma, "Today's Top Hits".

Após chamar a atenção dos curadores do Spotify, o hit "Hear Me Now" foi incluído em playlists, chegando a 100 milhões de reproduções em menos de cinco meses.

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