Folha de S. Paulo


Veja Luz dá voz à periferia e mescla reggae, rap e até jazz em segundo disco

Wlad Raeder/Divulgação
SÃO PAULO, SP, 4.JUL.2017. Retrato do grupo de reggae Veja Luz em Taboão da Serra, SP. Foto: Wlad Raeder Divulgação ***DIREITOS RESERVADOS. NÃO PUBLICAR SEM AUTORIZAÇÃO DO DETENTOR DOS DIREITOS AUTORAIS E DE IMAGEM***
Retrato do grupo de reggae Veja Luz em Taboão da Serra, SP; banda lança segundo disco, 'Escolhas'

A zona sul de São Paulo fala alto em "Escolhas", segundo disco do grupo Veja Luz.

A ser lançado nesta sexta (7), o álbum pode ser ouvido a seguir, com exclusividade para a Folha, e deve ser lançado em show em agosto.

Produzido pela banda e distribuído pela YB, o trabalho mostra que o grupo de reggae de Taboão da Serra —há nove anos no "corre"— reforçou com rap, MPB e até jazz seu som urbano, de sotaque poético e paulistano.

Banda Veja Luz lança segundo disco, "Esquinas"

"Nos conhecemos no Pirajussara, uma turma que se encontrava pra tomar vinho e ouvir reggae", diz o baixista Marcus Rosa, 37, citando uma praça na cidade contígua a São Paulo.

Ali, nas rodinhas de violão, o grupo descobriu o vocalista Fernando Novaes, 29, o Fino, caçula da banda cujo músico mais velho tem 42 anos.

Contrariando o clichê, o Veja Luz não cita como referência primeira Bob Marley (1945-1981) ou Peter Tosh (1944-1987), mas o Steel Pulse.

O grupo inglês é associado ao roots reggae —vertente de letras cronistas e (ainda mais) conectadas à religião rastafári. Também é creditado por uma primeira miscigenação do som propagado a partir da Jamaica nos anos 1960 e 70. "A gente comeu com farinha os discos deles", narra Rosa.

Ele e Fino assinam as composições, em um contraponto meio Lennon/McCartney no qual Rosa responde pelas palavras "mais ríspidas e críticas", e o colega, pela "onda mais good vibe, meio zen".

Outras referências musicais do Veja Luz são ícones "da música negra", define Rosa, como Stevie Wonder, Kool & the Gang, Michael Jackson e Tim Maia, nomes do rap, como Racionais MC's e Dexter, e o compositor baiano Edson Gomes.

Nessa veia eclética, o disco equilibra bem uma versão de "O Que Será (À Flor da Terra)", de Chico Buarque —que ouviu e gostou—, versos inspirados de Black Alien em "Dignidade" e uma harmonia com ares de rock progressivo em "Is True Man Town".

Também fazem participações o cantor Al Griffiths, do grupo The Gladiators, e o músico e radialista Jai Mahal, 56, um dos difusores do gênero no Brasil.

"Achei a banda tão boa que cheguei a me oferecer para tocar uma guitarra base", diz Mahal, rindo, mas meio sério. "Eles têm um som inteligente, o timbre do Fi é legal, e as letras são observadoras, não ficam no rastafári genérico. Têm bom gosto", completa.

QUEBRADA

Tal diferencial lírico advém da conexão entre rap e poesia na zona sul, sintetizada na Cooperifa, iniciativa poética de Sérgio Vaz que fomentou réplicas do teatro ao cinema.

Foi assim com o Veja Luz, que em uma encarnação inicial, intitulada Varal Roots, fez seu primeiro show no Bar do Binho, outro norte da região.

"O rap nos deu a percepção de que a gente pode mudar nossa realidade e a das pessoas à nossa volta pelo poder da palavra", afirma Rosa.

Vaz, 53, cuja voz abre o disco, diz que o Veja Luz "pega o que está nas ruas e traduz de volta para alimentar a comunidade". Ele completa: "Veja Luz e a quebrada, as duas coisas se confundem. É o reggae de favela".

ESCOLHAS
Artista: Veja Luz
Gravadora: Independente
Onde: iTunes (R$ 13), Spotify e Deezer


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