Folha de S. Paulo


Oskar Metsavaht, criador da grife Osklen, quer trocar a moda pela arte

"Minha ambição é me afastar da moda", diz Oskar Metsavaht, o criador da Osklen, no Museu da Imagem e do Som, onde acaba de abrir uma exposição. "Os executivos não entendem isso, mas estou avisando, dando toques. No fundo, é a morte, mas é também uma vontade de liberdade, uma crise de expressão."

Depois de construir um império em torno de uma das grifes mais influentes do país, o ex-médico, atual estilista e futuro artista de 55 anos quer que sua nova mostra, uma espécie de extensão do filme "Soundtrack", que entra em cartaz agora, antecipe o que parece ser seu inevitável adeus às passarelas.

Numa galeria do MIS, suas fotografias flagram o ator Selton Mello em cenas do longa-metragem. Ele vive Cris, um artista frustrado que se isola numa estação de pesquisa no meio da neve para fazer sua obra definitiva -uma série de selfies glaciais talhados para arrebatar público e crítica.

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Selton Mello retratado por Oskar Metsavaht em fotografia agora no Museu da Imagem e do Som
Selton Mello retratado por Oskar Metsavaht em fotografia agora no Museu da Imagem e do Som

Metsavaht, um ortopedista que criou suas primeiras roupas para expedições no gelo, espelha na vida real a vontade de romper o cerco, no caso, o de um designer desiludido com o universo da moda, que luta para se embrenhar na selva das artes visuais.

"Não é o desejo de ser reconhecido. Sento na mesma mesa que o Marc Jacobs, o Valentino, já tenho essa fama", ele diz, seus olhos azuis em contraste aceso com as roupas -de sua marca- todas pretas.

"Meus amigos dizem que tenho espírito de artista. Não sou um designer, sou um artista. Talvez não seja um artista interessante, mas sei que meu olhar é interessante."

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Autorretrato do estilista Oskar Metsavaht, agora alvo de mostra no Museu da Imagem e do Som
Autorretrato do estilista Oskar Metsavaht, agora alvo de mostra no Museu da Imagem e do Som

Ele, que era amigo de Tunga, morto no ano passado, e que diz frequentar medalhões vivos como Vik Muniz e Adriana Varejão, chama a atenção para esse olhar desenhando um retângulo em torno dos olhos em autorretratos. Essas mesmas linhas douradas aparecem em outras de suas obras, como o visor de uma câmera a filtrar só o que interessa numa cena ou imagem.

No fundo, Metsavaht também quer se ver no espelho como um personagem da ficção. As dez imagens de sua mais ambiciosa série até o momento mostram um ator famoso, mas as etiquetas no museu dizem "autorretrato".

"É um autorretrato do Oskar? Do Selton? Do Cris? O sentimento das fotos traduziu bem o sentimento do personagem", diz Selton Mello. "Quando ele fotografava, ele pensava com os olhos do Cris. Então, nesse sentido, existiu mesmo um paralelo entre a gente."

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Selton Mello em cena do filme 'Soundtrack', da dupla 300ml
Selton Mello em cena do filme 'Soundtrack', da dupla 300ml

Esse malabarismo conceitual está em sintonia com a ideia de camadas do designer. "A primeira, como médico, foi a pele. E a roupa é uma camada imagética sobre o corpo", afirma Metsavaht. "E agora o que me interessa é a camada imaginária, do homem que se emociona, que se relaciona com o que o cerca."

Ele, aliás, vem se relacionando com a arte e o showbusiness numa estratégia análoga a um reposicionamento de marca. Vai abrir uma galeria de arte no Rio até o fim do ano, um espaço onde também deve funcionar seu novo ateliê, além de ganhar agora uma vitrine nas salas de cinema e no MIS.

Tudo parece ser um esforço orquestrado para driblar a resistência que diz sofrer como estilista que tenta se firmar como artista, da mesma forma que se despiu da imagem de médico para entrar no mundo das roupas térmicas e depois abandonou de vez a vestimenta utilitária para construir seus desfiles mais ousados.

"Ele vai acontecer como artista", diz Bernardo Dutra, metade da dupla de diretores 300ml, à frente de "Soundtrack". "O Oskar está em outro momento da vida dele. Quando você faz uma transição, enfrenta preconceito. Mas ele é um artista de alma, que não quer acontecer só por dinheiro ou marketing."

ESPIRITUAL E METAFÍSICO
Metsavaht, de fato, já tem dinheiro e marketing de sobra.

"Minha criatividade me deu uma posição econômica", ele afirma. "Talvez eu tenha feito o caminho inverso. Estou num momento muito mais de ficar no meu estúdio criando, experimentando, pensando em projetos futuros do que querer ter meu trabalho numa galeria para vender. Só quero ter a oportunidade de mostrar o meu trabalho, que é minha viagem espiritual, metafísica."

No caso, seria um contraponto à materialidade de bolsas, sapatos e vestidos nas vitrines de suas lojas, embora ele mesmo veja todas as criações da grife como elementos de um mesmo estilo "minimalista, sintético, conceitual".

"É para as pessoas olharem com outro filtro para o que eu faço", diz Metsavaht. "Moda é uma coisa útil, mas as galerias de arte também vendem objetos, com a diferença que são coisas que você não veste."

OSKAR METSAVAHT
QUANDO ter. a sex., 11h às 20h; sáb., 10h às 21h; dom., 10h às 19h; até 16/7
ONDE Museu da Imagem e do Som, av. Europa, 158, (11) 2117-4777
QUANTO R$ 10


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