Folha de S. Paulo


Cantores sertanejos constroem o novo padrão de vestimenta do brasileiro

João Alvarez-24.jan.2015/UOL
SALVADOR - BA - BRASIL - 24/01/2015 - FESTIVAL DE VERAOShow de Lucas Lucco na ultima noite do Festival de Verao 2015.Foto: Joao Alvarez/UOL******EMBARGADO PARA USO EM INTERNET******ATENCAO:PROIBIDO PUBLICAR SEM AUTORIZACAO DO UOL
Lucas Lucco em show no Festival de Verão de Salvador

Gênero mais ouvido do país e que arrasta milhões a megashows, o novo sertanejo está vinculado a imagens criadas por profissionais que, já é possível dizer, constroem o padrão de vestir do brasileiro.

Longe das revistas e das passarelas, um grupo restrito de stylists e consultores de imagem domina o guarda-roupa desse artistas, misturando peças adquiridas em Miami ou no Brás, região do varejo popular de São Paulo.

Tudo depende, claro, da quantia envolvida no trabalho, que gira em torno de R$ 5.000 –valor pago por artistas iniciantes–, mas pode chegar a R$ 40 mil mensais, a depender da conta bancária do contratante.

"Todos começam no cavalo e terminam no jatinho", diz a visagista e consultora de imagem Maris Tavares, 46. Engenheira ambiental, ela largou tudo em 2012, quando a Talismã Music, do amigo e cantor sertanejo Leonardo, a convidou para criar o visual de Cristiano Araújo ("Você Mudou"), morto em 2015. Hoje, sua empresa, a Maris Consultoria, instalada no útero sertanejo, Goiânia, oferece até combo de personal trainer, odontologia e figurino.

Lucas Lima - 29.nov.2015/UOL
O cantor Michel Teló no festival Brahma Valley
O cantor Michel Teló no festival Brahma Valley

Autointitulada "fada madrinha dos músicos", Maris já trabalhou com Lucas Lucco ("Mozão"), o "mais vaidoso" da nova leva, e cuida do guarda-roupa da paranaense Naiara Azevedo. A musa do hit "50 Reais" "chegou com três shorts e quatro camisetas". Hoje, tem dois closets cheios de peças das estilistas Gloria Coelho e Helo Rocha. "Criei um sertanejo chique."

Estar chique ou estar na moda no diverso clã sertanejo significa investir em viagens e adotar elementos da indumentária caipira revisitados. A bota de bico fino de outrora deu lugar ao coturno; o cinto de maxifivela, ao simplificado. Já o chapéu country foi trocado pelo do tipo fedora. Tatuagens, tênis e jeans detonados compõem o visual dos mais jovens.

Li Camargo, 52, um dos stylists mais requisitados do país, é mentor do visual moderninho de Luan Santana, da fase rock and roll de Lucas Lucco e das sobreposições de Henrique, da dupla Henrique & Juliano. Segundo o stylist, "não adianta impor nada. Se o cantor não se sentir bem, mudará de estilo logo depois, o que é pior para ele".

Quando Lucco colocou quase R$ 20 mil em sua mão, em 2014, Li foi parar na varejista sueca H&M, em Nova York, na Melrose Avenue, em Los Angeles, e até nos inferninhos de Camden Town, em Londres. Voltou com sete sacolas enormes, "quase tudo preto".

Ex-comprador da Daslu, Camargo afirma que um dos desafios do trabalho dos stylists é conciliar as trocas de figurino com as agendas lotadas dos sertanejos, que "nunca repetem roupa". "Uma calça ou outra até vai, mas camiseta e camisa nunca aparecem duas vezes. O Pablo [cantor baiano de arrocha] só repete os paletós sob medida da Dolce & Gabbana."

PÚBLICO-ALVO

Outro desafio é lidar com o preconceito das marcas de moda. Se no exterior as grifes disputam a tapa o corpo das celebridades, o mesmo não acontece quando se trata da música sertaneja. Camila Motoryn, que forma com Gabriela Grinman uma das duplas de figurinistas de maior sucesso do meio artístico, diz que "é mais negócio ir ao Brás e pedir para marcas menores customizarem as peças".

Ela cita as etiquetas Bio Two e Pargan, com vasto repertório de peças usadas por sertanejos, como nomes orgulhosos do público conquistado.

Dolce & Gabbana, os jeans da Diesel e as camisetas Armani Exchange foram citados pelos profissionais como sonhos de consumo dos músicos. Os mais abastados também têm queda por Gucci.

Do Brasil, Ricardo Almeida e Cavalera são das poucas grifes do segmento "premium" a entender o potencial sertanejo. Almeida, conta Camila, cortou 30 metros de tecido europeu para o cantor Daniel vestir no programa "The Voice", da Globo. Michel Teló, que ela também veste, adota o mesmo processo de customização do corte sob medida, além das compras no exterior.

"Boa parte das marcas brasileiras não veste os sertanejos por afirmar que eles não são o público-alvo. É um problema. Não sei de que público eles estão falando."

Luan Santana em 'Acordando o Prédio'

Luan Santana no videoclipe de 'Acordando o Prédio'

FORA DO ARMÁRIO
As medidas da vaidade sertaneja

120
é o número aproximado de peças usadas em um único mês, incluindo aparições em programas de TV, comerciais, jantares com empresários contratantes e shows

R$ 20 mil
são gastos em média numa compra de roupas em lojas internacionais. Miami é o destino predileto dos artistas, para encontrar calças Diesel e camisetas Armani Exchange mais baratas

R$ 300 mil
é o valor médio que duplas e cantores sertanejos cobram por show. O cachê pode passar dos R$ 500 mil quando o artista está no topo das paradas; alguns fazem mais de 30 apresentações por mês

R$ 5 mil a R$ 20 mil
é quanto cobram os stylists; além dos trabalhos pontuais para gravações de DVD e programas de televisão, muitos viram consultores fixos. Os clientes fidelizados chegam a quatro ou cinco por mês

Fonte Consultores de imagem


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