Folha de S. Paulo


CRÍTICA

Carisma de Omar Sy no papel de pai levanta 'Uma Família de Dois'

UMA FAMÍLIA DE DOIS (bom)
(Demain Tout Commence)
DIREÇÃO Hugo Gélin
ELENCO Omar Sy, Clémence Poésy, Antoine Bertrand
PRODUÇÃO França/Inglaterra, 2016, 12 anos
Veja salas e horários de exibição.

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De modo geral, os remakes são recebidos com certa desconfiança pela crítica e pelos espectadores. A comparação com o filme original é inevitável, ininterrupta e, muitas vezes, compromete a nova experiência.

Mas o caso não se aplica a "Uma Família de Dois", em cartaz a partir desta quinta (29). Pelo contrário. O longa assinado por Hugo Gélin se sai melhor do que a obra que o inspirou.

Tudo bem que a tarefa nem era tão complexa, já que a comédia mexicana "Não Aceitamos Devoluções" (2013), dirigida e protagonizada por Eugenio Derbez, patina do início ao fim.

Com maior investimento e elenco afinado, a refilmagem se sobressai em termos técnicos, artísticos e narrativos. Traz mais graça e elaboração a um roteiro insosso, quase bobo.

Mas o grande trunfo da versão francesa atende pelo nome de Omar Sy.

Conhecido pelo grande público desde "Intocáveis" (2011) –quando interpretou Driss, o cuidador despachado de um tetraplégico milionário–, o ator de 39 anos transborda carisma e levanta qualquer produção.

Em "Uma Família de Dois" ele é Samuel, funcionário de um barco de turistas na Riviera Francesa que adora pagar de patrão, dar festas de arromba e conquistar belas mulheres.

A boa vida acaba quando Kristin (Clémence Poésy), uma ex-peguete, aparece do nada com um bebê a tiracolo, diz que ele é o pai da criança e some num piscar de olhos.

Desesperado, Sam embarca para Londres em busca da mãe da menina. Porém, a tentativa frustrada impõe o desafio de assumir a criação de Gloria (Gloria Colston).

A partir daí, a trama se concentra na relação entre pai e filha, que, embora bem bonitinha, repete alguns problemas do longa original.

Em poucos minutos, o choque do primeiro contato dá lugar a uma harmonia irretocável. O roteiro abusa das reviravoltas e chega muito perto de transformar uma comédia leve e despretensiosa num melodrama absolutamente dispensável.

A coisa só não desanda porque o time de atores equilibra o tom. Omar Sy transita pelo riso e pela lágrima sem forçar a barra. A pequena Gloria dá brilho e graciosidade à sua personagem. Clémence Poésy transmite no olhar a culpa de uma mãe que abandonou a filha, e Antoine Bertrand (Bernie, o divertido amigo gay de Sam) justifica o clichê.

Apesar dos consideráveis deslizes –em grande parte herdados do filme mexicano–, "Uma Família de Dois" vale o ingresso e contraria as expectativas sobre o desempenho dos remakes.

Assista ao trailer de "Uma Família de Dois"

Assista ao trailer de "Uma Família de Dois"


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