Folha de S. Paulo


Crítica

Em longa, João Silva é celebrado por sua música bela e simples

Divulgação
Danado de bom [Danado de bom, Brasil, 2017], de Debby Brennand (Inquietude). Genero: documentário ***DIREITOS RESERVADOS. NÃO PUBLICAR SEM AUTORIZAÇÃO DO DETENTOR DOS DIREITOS AUTORAIS E DE IMAGEM***
João Silva em cena do documentário 'Danado de Bom', diante de árvores secas na região de Arcoverde, em Pernambuco

DANADO DE BOM
PRODUÇÃO: Brasil, 2016, livre
DIREÇÃO: Deby Brennand
Veja salas e horários de exibição.

O espectador deixa uma sessão do documentário "Danado de Bom" provavelmente surpreso com a capacidade da música brasileira de ser às vezes muito simples e mesmo assim encantadora.

João Silva (1935-2013), biografado no filme, foi o parceiro mais precioso de Luiz Gonzaga (1912-1989) e é um dos exemplos mais fortes dessa música brasileira poderosa.

O documentário acompanha João numa viagem de volta a Alcoverde, sua cidade natal em Pernambuco, e pelo caminho ele recorda sua vida. Simpático, cativante, João exibia rara mistura de humildade e autoconfiança.

Jamais pensou que gravaria discos ou escrevesse canções, mas quando, de modo casual, viu pela primeira vez um LP e um toca-discos, simplesmente resolveu começar a cantar. E a compor. Escreveria mais de 3.000 canções.

Fica claro que em momento algum duvidou que seria capaz de fazer isso. Cantou em público, viajou ao Rio, passou a integrar o prestigiado time de cantores da rádio Mayrink Veiga, tudo isso com o jeito tranquilo, sem medo.

Assista ao trailer de "Danado de Bom"

danado de bom

Talvez um pouco de medo tenha tentado dar as caras quando a lendária cantora de forró Marinês (1935-2007) quis apresentá-lo a Gonzaga, num episódio que ele relata no filme. Mas João não se deslumbrou e ele e seu ídolo começaram em poucos minutos uma amizade e parceria que daria a Gonzaga uma fase final e gloriosa em sua vida.

Quando João passou a compor para Gonzaga, o rei do baião vivia um momento de baixas vendas. A canção "Danado de Bom" vendeu um milhão de discos, devolvendo letras e melodias alegres ao repertório de Gonzaga.

As letras de João Silva, muita vezes escritas na velocidade dos repentistas, são elaboradas, líricas. Embora defenda em um dos momentos do filme que tinha predileção por músicas curtas, essas não tinham nada de simples.

Nos depoimentos colhidos para o documentário, entre eles declarações de Elba Ramalho e Gilberto Gil, a admiração por João é escancarada.

A diretora Deby Brennand usa com ótimo resultado os recursos dos "lyric videos", jogando na tela versos das canções, o que só destaca a força da poesia de João Silva.

Fica evidente que ele era mesmo danado de bom.


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