Folha de S. Paulo


Em 'livro-site', dramaturgos investigam formas de fazer literatura

Karime Xavier/Folhapress
Os dramaturgos Gustavo Colombini e João Dias Turchi, que lançam 'livro-site'
Os dramaturgos Gustavo Colombini e João Dias Turchi, que lançam o 'livro-site' projetohipertexto

"Todas as palavras que foram escritas serão apagadas. Todas as fotos vão desaparecer. Todos os áudios serão silenciados. Só vai sobrar o que você conseguir guardar aqui. A memória do mundo é a memória de um site". No caso, do projetohipertexto.com.br.

Lançada nesta quarta (28), a plataforma é um "livro-site" pensado pelos dramaturgos Gustavo Colombini, 26, e João Dias Turchi, 28.

Eles partem da narrativa fictícia —na qual o conteúdo produzido pela humanidade entra em colapso por não caber mais no armazenamento de uma nuvem— para pensar novas formas de lidar com a leitura, a emissão, a recepção e a distribuição de um texto.

"É uma ideia de sítio arqueológico do futuro", explica Turchi, que trabalha com Colombini desde 2013 quando criaram o Cinza, coletivo de investigação de escrita, seja ela literária ou teatral.

Juntos, eles já montaram espetáculos como "Planta", realizado no Minhocão em 2013, e escreveram "Histórias para Serem Lidas em Voz Alta" (2014), publicação independente que investiga os limites entre literatura e dramaturgia.

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Imagem que integra o 'projetohipertexto', que investiga novas formas literárias
Imagem integra o projetohipertexto, que investiga novas formas literárias

No "projetohipertexto", o leitor torna-se coautor da história. Ao clicar em palavras em hiperlink, ele é redirecionado, de forma aleatória ou pré-determinada pelos autores, para uma nova página, que pode conter um vídeo, uma foto, um áudio ou um trecho escrito.

Parte do conteúdo, que dialoga com questões ligadas à memória e às relações cotidianas, foi criada pela dupla; outra acabou sendo encontrada na própria internet.

"Procuramos no YouTube, por exemplo, por vídeos de zero a cinco visualizações. É como se eles tivessem sido postados para não serem vistos", comenta Colombini.

Para ele, o interessante é a falta de controle que os dois têm como autores. "Cada usuário pode ter uma leitura diferente. Depende de onde o leitor clica e de quanto tempo ele fica na página", afirma. Por enquanto, há uma média de 500 posts. "Mas a ideia é seguir alimento a plataforma. É um caminho sem fim", completa.

A pesquisa do "livro-site" também se desdobrou em outras propostas: uma ação realizada no CCSP (1º, 2, 8 e 9/7, das 14h às 18h), na qual duas pessoas são convidadas a conversar por escrito, mesmo estando num mesmo ambiente; e um "podtext". Por meio deste, participantes recebem mensagens audiovisuais diárias em seu WhatsApp —cerca de 200 já integram a rede.

"Entramos no espaço íntimo que é o celular e criamos uma narrativa", diz Turchi.


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