Folha de S. Paulo


Em 'High Hitler', jornalista alemão afirma que Hitler usava drogas

World History Archive/Alamy Stock Photo
Em 1933, líder nazista Adolf Hitler (1889-1945) treina seus discursos em frente ao espelho
Em 1933, líder nazista Adolf Hitler (1889-1945) treina seus discursos em frente ao espelho

OK, o trocadilho no título da edição brasileira parece infame, mas é bom. "High Hitler", em inglês ("Hitler chapado", ou drogado), se pronuncia de modo parecido com "Heil, Hitler", em alemão ("Salve, Hitler"). Não é o título original, mas foi o título de matéria do britânico "The Guardian" sobre o livro.

Há dois tópicos básicos, disse o autor, o jornalista e romancista alemão Norman Ohler, 47, à Folha. O uso de drogas pelo líder nazista Adolf Hitler e seus capangas e o uso de drogas pelas forças armadas alemãs, a Wehrmacht.

"Surpreendentes" é o adjetivo que ele usou para definir as descobertas. Também se poderia dizer "polêmicas".

Ohler foi atrás de um tema pouco conhecido, apesar de dezenas de anos de pesquisas e milhares de livros sobre o nazismo. Um amigo DJ lhe contou que Hitler e seus íntimos usavam drogas. Ele, que usou as substâncias no passado, foi atrás e levantou fatos novos.

Diz que derivados do ópio foram "cruciais" para o sucesso das primeiras campanhas e das invasões da Polônia e da França. "Faziam os soldados terem menos medo, e precisarem menos de sono." Além de mais corajosos, podiam marchar e combater de dia e noite, ao contrário dos inimigos.

Para o escritor, as drogas foram principalmente importantes na primeira semana de campanhas, quando uma combinação de ataques esmagou tudo pela frente. E o corpo humano não aguentaria um prolongado uso de drogas.

Como diz no livro sobre a invasão da Polônia, que abriu a guerra em 1º de setembro de 1939; as drogas levavam "os homens dos tanques a não pensar muito sobre o que estavam procurando naquele país estranho, deixando-os fazer seu trabalho –mesmo que a tarefa fosse matar pessoas."

"O Pervitin era legal nos anos 1930 por todo o Reich alemão e, mais tarde, nos países ocupados, tornando-se uma 'droga popular' disponível em qualquer farmácia; só a partir de 1939 passou a ser vendida mediante receita e finalmente, em 1941, ficou sujeita às determinações da Lei do Ópio do Reich alemão", diz o autor.

Detalhe: o componente ativo, a metanfetamina, hoje é ilegal ou rigorosamente regulamentado em todo o mundo.

É claro que a droga não foi o único fator. Ohler comenta que tanques franceses e britânicos tinham blindagens mais espessas. Mas eram uma minoria dos tanques em 1940; e a ausência de rádios sem dúvida foi mais importante.

MÉDICO

O outro tópico trata da elite do partido nazista. O médico Theodor Morell ingressou no grupo e após "se registrar como membro do partido, o consultório de Morell logo passou a funcionar melhor do que nunca". Virou médico pessoal de Hitler, a quem dosaria com coquetéis de drogas.

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Isso influenciou a guerra? Ohler afirma que sim, mas historiadores críticos do seu livro, como o britânico Richard Evans, consideram a obra mais romance do que história.

Para Evans, "a habilidade de Ohler como romancista torna seu livro muito mais legível do que essas pesquisas acadêmicas, mas é à custa da verdade e precisão, e esse é um preço muito alto para pagar em uma área sensível".

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HIGH HITLER
AUTOR Norman Ohler
TRADUÇÃO Silvia Bittencourt
EDITORA Planeta (selo Crítica)
QUANTO R$ 45,50 (384 págs.)


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