Folha de S. Paulo


Álbum de Radiohead completa 20 anos e ganha relançamento com inéditas

O Radiohead comemora os 20 anos do disco "OK Computer" com uma iniciativa ambiciosa: o álbum foi relançado na semana passada sob o nome "OKNOTOK: 1997-2017" e em diversos formatos: em vinil; em CD; em arquivos digitais; e em uma caixa que traz um livro de capa dura com ilustrações e fotos, discos em vinil e um caderno de anotações do vocalista Thom Yorke, entre outras joias.

Em cada formato, além das 12 faixas (remasterizadas) de "OK Computer", há oito que saíram como lados B de singles. Tem mais, três músicas inéditas, que surgiram por volta das sessões de "OK Computer" ou pouco antes. São elas: "I Promise", "Man of War" e "Lift".

"OK Computer" saiu originalmente em 31 de maio de 1997. Para entender a importância do disco ajuda contextualizar o que era o Radiohead antes e o que virou depois.

Antes: uma banda que se encaixava no padrão roqueiro, em que as guitarras construíam hits como "Creep" (do álbum "Pablo Honey", de 1993) e "High and Dry" ("The Bends", 1995), e que excursionava abrindo shows de Soul Asylum e Alanis Morissette.

Depois: uma banda que abandonou qualquer padrão pop, incorporou elementos do jazz e experimentações eletrônicas e passou a produzir música inclassificável.

"OK Computer" é o disco que faz a ponte entre essas duas fases -faixas como "No Surprises" e "Karma Police" têm formatos ortodoxos, mas mostram uma certa ousadia nos arranjos; músicas como "Paranoid Android", "Lucky" e "Exit Music (For a Film)" são construções que não se encaixam em gêneros, mas conservam uma veia melódica.

As letras fugiam do lugar comum e desenhavam um mundo desolador. Insegurança, paranoia, crítica ao capitalismo e o terror (visível e invisível) são temas presentes. Em meio a tudo isso, Thom Yorke, com um vocal por vezes ininteligível e que em nada lembra a figura de um líder de banda pop.

INÉDITAS

Ao ouvir as três faixas inéditas, não dá para não questionar: por que foram mantidas quase como um segredo por tanto tempo?

A distópica "Man of War" e a melancolicamente romântica "I Promise" ("eu não vou mais fugir, eu prometo/ mesmo quando eu ficar entediado, eu prometo/ mesmo quando o navio naufragar, eu prometo") não ficariam deslocadas em "OK Computer".

Já "Lift" é um caso à parte. A música inicialmente havia sido considerada como potencial single do álbum, mas a banda desistiu de incluí-la pois não "soava corretamente" -talvez por ser direta demais, com uma estrutura melódica mais pop do que as 12 que estão no disco?

Não por coincidência, "OK Computer" foi o primeiro da parceria entre a banda e o produtor Nigel Godrich, que desde então passou a colocar as mãos em todos os álbuns do Radiohead. Vendeu mais de 4 milhões de cópias, mesmo sendo quase uma anomalia quando foi lançado.

Naquele 1997, enquanto os EUA de Bill Clinton comemoravam crescimento econômico e o Reino Unido brindava a eleição de Tony Blair tendo como trilha o britpop ensolarado de Oasis e Blur, "OK Computer" parecia prever: o futuro talvez seja sombrio.

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Confira comentários faixa a faixa:

Ouça no deezer

"Airbag"
Música que apresenta o disco: guitarras que produzem ruídos, uma bateria que marca o tom, efeitos diversos. E voz quase etérea de Thom Yorke

"Paranoid Android"
Uma espécie de hino progressivo-distópico que já apontava para o rumo que a banda iria seguir no álbum seguinte. "O que é aquilo/ Eu posso ser paranóico, mas não andróide"

"Subterranean Homesick Alien"
Thom Yorke já disse que esta é como "Contatos Imediatos do Terceiro Grau", a ficção científica dirigida por Spielberg. A letra: "Lá em cima os alien planam/ Fazendo filmes caseiros para seus amigos que estão em casa"

"Exit Music (For a Film)"
Começa lenta e, pouco depois de três minutos, explode em ritmo acelerado. Esse formato foi copiado por bandas como Muse

"Let Down"
Combinação perfeita entre uma guitarra de inclinação roqueira e um piano intimista. "Desça e circule por aí/ Esmagado como um inseto no chão/ Desça e ande por aí"

"Karma Police"
Música que mesmo não tento um refrão típico, tornou-se um hit. Aqui, o desespero e o inconformismo da letra encontram tintas melódicas sublimes

"Fitter Happier"
Mais uma espécie de manifesto do que uma música, mas um dos pontos centrais de "OK Computer". Uma voz robótica descreve uma sociedade doente. Assustadora

"Electioneering"
Leituras de Noam Chomski inspiraram Thom Yorke. Nas palavras do vocalista: "(Tony) Blair chegou ao poder e havia muito otimismo no ar. Alguns bons filmes foram feitos, boa música foi criada blah blah blah. E por um momento houve a crença de que a política poderia ser desvinculada de interesses particulares. Mas aí ficou óbvio que isso não iria acontecer"

"Climbing Up the Walls"
Musicalmente, a mais tétrica do disco, uma balada cheia de ruídos e tons obscuros. A letra faz referência a tempos paranóicos

"No Surprises"
Um dos singles do disco. Canção de melodia linda e que traz um trecho que é um dos favoritos dos fãs nos shows: "Derrube o governo/ Eles não falam pela gente"

"Lucky"
Outra que alterna instantes delicados com momentos nervosos. Um otimismo cínico permeia a letra

"The Tourist"
Escrita pelo guitarrista Jonny Greenwood. Em um vocal etéreo, Thom Yorke diz: "Hey cara, vá devagar, vá devagar"

E as inéditas:

"I Promise"
"Eu não vou mais fugir, eu prometo/ mesmo quando eu ficar entediado, eu prometo/ mesmo quando o navio naufragar, eu prometo", canta Thom Yorke na faixa linda

"Man of War"
Para muitos fãs, esta faixa é uma espécie de tributo às canções dos filmes de James Bond. Traz boas experimentações harmônicas

"Lift"
Com uma guitarra certeira, poderia ter sido um single de "OK Computer". "Você está preso em um elevador/ na barriga de uma baleia/ no fundo do oceano"


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