Folha de S. Paulo


CRÍTICA

'Na Vertical' é corajoso ao abordar França profunda com aspereza

Divulgação
Os atores Damien Bonnard, India Hair e Raphaël Thiéry em 'Na Vertical'
Os atores Damien Bonnard, India Hair e Raphaël Thiéry em 'Na Vertical'

NA VERTICAL (bom)
(Rester Vertical)
DIREÇÃO Alain Guiraudie
ELENCO Damien Bonnard, India Hair, Raphaël Thiéry
PRODUÇÃO França, 2016, 18 anos
Veja salas e horários de exibição

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Léo (Damien Bonnard) é um cineasta que procura inspiração para seu novo filme. Primeiro ele encontra um belo jovem, Yoan (Basile Meilleurat), e oferece, sem obter resposta positiva, um papel para ele.

Depois encontra Marie (India Hair), uma fazendeira às voltas com lobos ameaçadores para seu rebanho. Marie também cuida do pai e dos dois filhos pequenos. Léo e Marie iniciam um romance.

Juntos eles têm um filho. Cansada de cuidar do filho sozinha quando Léo desaparece para escrever um roteiro, Marie resolve ir embora, deixando Léo, um irresponsável de marca maior, criar o bebê por conta própria.

Essa é a trama de "Na Vertical", quinto longa-metragem de Alain Guiraudie (excetuando dois médias-metragens no início da carreira). Ela se desenvolverá de maneira imprevisível, como é hábito no cinema desse diretor.

Como em seu longa anterior, "Um Estranho no Lago", há frontalidade na representação do corpo humano e do sexo: Guiraudie insiste num plano frontal de nu feminino deitado na cama, como se procurasse reproduzir "A
Origem do Mundo", famoso quadro de Gustave Courbet.

E, de fato, logo depois há o parto do bebê, filmado de perto, a desencorajar olhares pouco afeitos à verdade nua e crua da anatomia humana. É uma imagem forte, que pode impressionar e até assustar quem não tem ideia de como é um parto natural.

Há também um louvor à liberdade e à diversidade sexual. A bissexualidade é naturalizada, nunca usada como bandeira ou motivo de choque fácil em plateias conservadoras.

Mas "Na Vertical" tem uma irregularidade que outros filmes de Guiraudie não têm. Em determinado momento, nos perguntamos o porquê de estarmos vendo um personagem tão desinteressante como esse protagonista.

Aliás, os personagens mais interessantes do filme são os velhos (como em "O Rei da Fuga", que Guiraudie filmou em 2009): Jean-Louis (Raphael Thiéry), o pai de Marie, que à certa altura mostra desejo sexual por Léo, e
Marcel, o senhor roqueiro que emprega Yoan como ajudante e amante.

A coragem para abordar frontalmente uma certa aspereza da França profunda e um final para lá de instigante, que explicita a razão de ser do filme (justamente encarar a vida de modo frontal), salvam Guiraudie do primeiro deslize de sua carreira.

Assista ao trailer de "Na Vertical"

Assista ao trailer de "Na Vertical"


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