Folha de S. Paulo


Mostra revê indigenismo art déco do modernista Vicente do Rego Monteiro

Lembram esculturas, ou máquinas, os corpos esquemáticos dos homens e bichos nas telas de Vicente do Rego Monteiro. Sua visão funde os traços da cerâmica marajoara, que ele estudou à exaustão, aos contornos reluzentes da art déco, vanguarda que vivia seu auge em Paris quando o modernista do Recife foi viver na capital francesa.

Um dos nomes mais originais do século 20, Rego Monteiro, morto aos 70, em 1970, agora é alvo de uma retrospectiva na galeria Almeida e Dale, onde estão obras que vão das aquarelas inspiradas por lendas amazônicas do começo de sua carreira às telas mais emblemáticas desse seu geometrismo indígena.

Ele falava, de fato, em usar as cores da pele vermelha dos índios do país na construção de retratos de pegadas distintas, do realismo socialista de seus operários a madames diante do espelho -todos eles, no caso, passando pelo filtro do cubismo. Impossível, aliás, não pensar em Picasso ou Braque diante de algumas de suas naturezas-mortas.

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O Lobo e a Ovelha', pintura de 1925, de Vicente do Rego Monteiro
'O Lobo e a Ovelha', pintura de 1925, de Vicente do Rego Monteiro

"Ele vai trabalhando sempre esses tons de vermelho ou urucum, mas com um acento art déco muito pronunciado", diz Denise Mattar, que organiza a mostra. "É o momento mais original da obra dele."

Sua pintura, no caso, reflete o trânsito intenso de um artista da periferia do planeta pelo turbilhão de vanguardas que abalava Paris -ao longo da vida, ele intercalou temporadas na capital francesa com momentos no Rio e no Recife.

Esses intervalos explicam as mudanças às vezes bruscas de registro. Rego Monteiro plasmou retratos de robustez impressionante, em que o sujeito parece asfixiado pelos próprios contornos duros como pedra, e ao mesmo tempo desenhou figuras religiosas, delicadas mulheres em chave vaporosa, um aceno ao japonismo dos impressionistas, e mais tarde composições surreais, com máscaras, cartas de baralho e mãos flutuantes.

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Arlequim e Bandolim', pintura de 1928, de Vicente do Rego Monteiro
'Arlequim e Bandolim', pintura de 1928, de Vicente do Rego Monteiro

Mesmo irregular, sua obra, revista de uma tacada só, não perde a exuberância estranha, no limiar entre o exótico e tudo aquilo que foi canonizado pela história da arte.

VICENTE DO REGO MONTEIRO
QUANDO de seg. a sex., das 10h às 18h; sáb., das 10h às 14h; até 29/7
ONDE galeria Almeida e Dale, r. Caconde, 152, tel. (11) 3887-7130
QUANTO grátis


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