Folha de S. Paulo


Crítica

'Vem' traz Mallu Magalhães de tom mais solar

VEM (regular)
ARTISTA Mallu Magalhães
GRAVADORA Sony
QUANTO: R$ 39,90

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Mallu Magalhães teve seis anos de maturação desde "Pitanga" para lançar "Vem", seu quarto álbum, com produção, direção musical e parte dos arranjos de seu marido, Marcelo Camelo.

Ela assina as letras, o violão e o piano das 12 faixas, que rondam temas familiares a seus fãs, como a distância física em "Pelo Telefone".

Mas a pouca ousadia e inovação no instrumental deixam na boca um gosto vintage. A flauta transversal e a progressão na introdução de "Casa Pronta" reafirmam o polimento retrô que permeia toda a produção da artista.

A produção musical é audaciosa. Só em "Você Não Presta", faixa de abertura do disco, mais de dez músicos são creditados.

Vivendo parte do tempo em Lisboa, a paulistana de 24 anos se tornou mãe, fez tours "voz e violão", compôs para outros artistas e cresceu.

Distanciou-se da timidez pseudofolk de suas músicas iniciais em inglês –há só uma faixa no idioma, a deslocada "I Love You", talvez a que mais lembre a Mallu de 2008.

Em "São Paulo", de refrão chiclete e instrumental entre a tradicional MPB e a pista de dança, ela se identifica como "gata da vida na selva de pedra". Em "Guanabara" remexe na bossa nova e brinca com a percussão esperta.

"Vem" é todo atravessado pela vontade de mexer o corpo de um lado para o outro, com letras sintetizadas ao clichê, para "cantar junto".

Sua voz suave ganhou mais fôlego, mantendo-se assertiva, um passo à frente do pop quase lúdico da Banda do Mar e do contido "Pitanga".

Como letrista, apoia-se no comum para dar a impressão de que suas frases vêm de algum lugar da memória –"azul bonito do céu" ("Culpa do Amor") ou "provar o mel da liberdade" ("Navegador").

Seu sentimentalismo quase fragilizado se faz aqui mais solar, contornado pela autoestima e pelos sonhos de quem está começando a vida.

Suas letras menos expansivas soam menos pretensiosas, caso da última faixa, "Linha Verde", em que fala, com timbres lusitanos, de voltar para casa e para a filha. "Alma na pele quando se acende", diz sobre sua mãe em "Gigi".

O amor cotidiano aparece nas animadas "Vai e Vem"e "Será que Um Dia", que lembram o início do Los Hermanos de Marcelo Camelo.

Não fique surpreso se escutar alguma das faixas na TV, sobre um lindo insert do Rio numa novela das nove.

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