Folha de S. Paulo


Após isolamento do líder, Fleet Foxes se reúne para novo álbum

De janeiro a março de 2013, o líder da banda Fleet Foxes, Robin Pecknold, morou sozinho em uma casinha em Port Townsend, uma cidade varrida pelo vento, a duas horas de Seattle. A cidade costuma se esvaziar no inverno, frio e gélido. Ele dedicava seus dias a um curso de marcenaria, com ênfase em técnicas tradicionais de artesanato e ferramentas manuais. Quase toda noite, fazia longas corridas pelas colinas, ruas e marinas.

É um lugar curioso para encontrar o vocalista e único compositor de uma das mais bem sucedidas bandas de indie rock dos últimos dez anos.

Os dois primeiros álbuns de folk-rock meticuloso e expansivo venderam mais de 2 milhões de cópias pelo mundo. Mas a vida de Pecknold se complicou nas gravações de "Helplessness Blues", álbum indicado ao Grammy em 2011.

Seu foco obsessivo no projeto e constante questionamento de suas motivações e valor pessoal ajudaram a criar música sedutora, mas ao mesmo tempo garantiram uma vida tóxica para ele.

Kyle Johnson/The New York Times
Robin Pecknold, líder do grupo de indie rock Fleet Foxes
Robin Pecknold, líder do grupo de indie rock Fleet Foxes

Na faixa título, épica e introspectiva, canta que preferiria "ser uma engrenagem funcional em alguma grande maquinaria que sirva a alguma coisa além de mim", e admite que "não sei o que será isso/ Mas um dia desses apareço de novo", com uma resposta.

Quando o novo disco do Fleet Foxes, "Crack-Up", for lançado, em 16/6, mais de seis anos terão se passado desde "Helplessness Blues". A banda volta com um álbum de peso, ambicioso, canções construídas sobre as melodias de dedilhado complexo nas guitarras e as harmonias vocais múltiplas que foram peças chaves em trabalhos anteriores.

Em um momento no qual o indie rock parece cada vez mais marginalizado na cultura, "Crack-Up" é uma declaração artística desafiadora, que ousa se sentir importante.

Skye Skjelset, guitarrista do Fleet Foxes, e Robin Pecknold criaram o grupo quando eram adolescentes. Não estava claro que haveria um novo álbum. "Não sabia que a demora seria tão longa. Terminei por aceitar o fato de que a banda tinha acabado", disse Skjelset.

As sementes do longo hiato foram plantadas durante a gravação de "Helplessness Blues". O líder estava obcecado em empregar sua visão, e tratava os colegas como pouco mais que acompanhantes. O resto de sua vida desmoronou. Terminou com a namorada e passou por "uma crise de identidade prematura".

Depois da turnê, o baterista Josh Tillmnan deixou a banda. Ao "Guardian" disse sobre seus dias finais no Fleet Foxes, que "todos começamos a odiar uns aos outros. Muitas lágrimas foram derramadas".

O título faz referência oblíqua a "The Crack-Up", ensaio que F. Scott Fitzgerald publicou em 1936 descrevendo sua crise existencial. Pecknold viu relações com a sua sombra.

"Eu estava tentando descobrir coisas novas de que gostar", diz. O ensaio de Fitzgerald "era exatamente sobre isso –a necessidade de criar razões pessoais para viver".

Tradução de PAULO MIGLIACCI


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