Charles Mingus (1922-1979) refutou sempre as classificações que críticos insistiam em procurar para seu som. Certa vez, o contrabaixista americano declarou: "Em minha música, estou tentando tocar a verdade do meu ser. Isso é difícil porque estou mudando todo o tempo".
Personagem do volume número 14 da Coleção Folha Lendas do Jazz, que vai para as bancas no domingo (18), Mingus foi realmente difícil, o adjetivo encaixa perfeitamente. Ele criou música complexa, inovadora ao extremo, e também não foi um parceiro fácil para quem ousou trabalhar a seu lado.
Seu jeito muito impulsivo era perdoado por amigos e admiradores próximos, enquanto quem não desfrutava de sua intimidade temia as explosões temperamentais. Em sua trajetória, ele saiu no tapa algumas vezes e em várias ocasiões expulsou músicos de ensaios e até do palco, no meio do show.
Garoto que enlouqueceu ao ouvir no rádio Duke Ellington (1899-1974), maior influência confessa, Mingus foi sempre vanguarda. Transitou entre bebop, cool jazz e hard bop, dos anos 1940 aos 1970.
Em suas composições, o trabalho de orquestração era muitas vezes um tributo ao "Duke", mas tudo o que fazia era inovador. A maneira como improvisava nos sons mais agudos do contrabaixo surpreendia até os músicos mais experientes.
Na segunda metade dos anos 1950, depois de ter tocado com alguns de seus ídolos, como Duke, Miles Davis, Art Tatum e Charlie Parker, além de ter experiência como bandleader, Mingus passou seu foco para a composição. Em pouco tempo, virou mesmo um gigante do gênero.
Quem quiser entender rapidamente a grandeza do músico pode se concentrar em "Pithecanthropus Erectus", de 1956, e "The Black Saint and the Sinner Lady", de 1963, uma suíte que está reproduzida no CD que acompanha o volume da coleção.
Para completar, vale ouvir a extensa peça orquestral "Epitaph", que Mingus não chegou a lançar em vida. Diagnosticado com rara paralisia muscular dois antes, morreu em 1979.
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| O contrabaixista Charles Mingus, em foto da década de 1960 |