Folha de S. Paulo


Disco 'Acabou Chorare', dos Novos Baianos, sai do vinil para o papel

Acervo UH/Folhapress
LOCAL DESCONHECIDO, 00-00-1972: Música: da esquerda para à direita os músicos Paulinho Boca de Cantor, Luiz Galvão, Pepeu Gomes (ao fundo) e Baby Consuelo, da banda Novos Baianos, posam para foto. (Foto: Acervo UH/Folhapress)
Da esq. para a dir.:os músicos Paulinho Boca de Cantor, Luiz Galvão, Pepeu Gomes (ao fundo) e Baby Consuelo, dos Novos Baianos, posam para foto

Em 1971, os Novos Baianos moravam num apartamento em Botafogo, no Rio, e chamavam atenção depois de um disco de estreia que misturava samba e rock, "É Ferro na Boneca", lançado em 1970.

Mas a influência de João Gilberto, que se tornou mentor do grupo, e a mudança para a vida em comunidade num sítio perto de Jacarepaguá produziu "Acabou Chorare" (1972), que briga pelo topo da lista de melhores discos da MPB.

Paulinho Boca de Cantor, Moraes Moreira, Baby do Brasil (na época Consuelo), Luiz Galvão, Pepeu Gomes, Dadi Carvalho e Jorginho Gomes criaram uma obra singular. E são protagonistas do livro "Acabou Chorare", organizado pela jornalista Ana de Oliveira, a ser lançado no dia 13.

O álbum "Acabou Chorare" é tropicalista por excelência. Exercita como poucos a atitude de reunir fontes musicais diversas em uma salada que não se parece com nada que veio antes. Derruba divisões de gêneros, estilos e sotaques.

A versão de "Brasil Pandeiro", de Assis Valente (1911-1958), dá o tom ao abrir o disco, mas são as faixas autorais que exibem claramente essa mudança. Mesmo nas músicas mais simples, como "Preta Pretinha" e "Besta É Tu".

"Tinindo Trincando" é um exemplo de um momento inspiradíssimo de Pepeu Gomes. Se existe um jeito 100% brasileiro de tocar guitarra, ele nasceu nessa faixa. É diferente das também ótimas "Mistério do Planeta" ou "A Menina Dança", outras do álbum que são MPB com solos de guitarra incorporados. "Tinindo Trincando" vai além, esconde limites entre samba e rock.

"Acabou Chorare", o livro, espelha a diversidade de estilos do disco. "Livrão" de mesa, do tamanho de um LP, está dividido em capítulos.

LETRAS E IMAGENS

Na porção inicial, cada faixa inspira um texto analítico e uma obra gráfica. A lista de escritores tem André Masseno, Arnaldo Antunes, Beatriz Azevedo, Caetano Veloso, Carlos Rennó, Evando Nascimento, Fred Góes, Hermano Vianna e Xico Sá. O time que colabora com obras gráficas reúne Alemão, André Vallias, Bel Borba, Domenico Lancellotti, Gen Duarte. Joana César, Odyr Bernardi, coletivo Opavivará!, Tulipa Ruiz e Vik Muniz.

Em sua segunda parte, o livro reproduz a arte do LP original –capa, contracapa, encarte e o selo impresso no vinil –e as letras das canções.

A fatia mais interessante do livro aparece em seguida. Ana de Oliveira reuniu praticamente todas as reportagens e críticas publicadas na imprensa brasileira sobre o disco e a carreira dos Novos Baianos naquele período.

O material inclui a histórica entrevista ao semanário "O Pasquim", em 1971. Conversam com a banda os jornalistas Luiz Carlos Maciel e Sérgio Cabral, dois dos fundadores de "O Pasquim", e o cineasta Glauber Rocha (1939-1981).

Num encontro muito engraçado, Paulinho, Moraes, Baby e Galvão falaram de Deus, problemas com a polícia, um show caótico em Guarapari, drogas, filhos, brigas na comunidade em que viviam –incluindo discussões sobre banheiro mal lavado– e até um pouco sobre música. Uma conversa de doidões.

Acabou Chorare
Ana de Oliveira
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O livro inclui também uma lista de curiosidades sobre o disco e uma galeria de declarações divertidas dos integrantes da banda, na época do disco e mais recentes.

ACABOU CHORARE

AUTOR Ana de Oliveira

EDITORA Iyá Omin

QUANTO R$ 99 (204 págs.)


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